Fabio Augusto da Silva Lima
Contato: fabioasl@gmail.com
No último dia 26 de outubro encerraram-se as eleições presidências de 2014, com uma acirrada disputa no 2º turno entre Dilma Roussef e Aécio Neves. Depois de uma campanha de baixo nível, cheia de reviravoltas, polêmicas, morte de um dos candidatos ao pleito, ausência de debate e propostas, venceu a atual presidente, Dilma Roussef, do PT, partido que governa o país há 12 anos.
No entanto, o que mais me chamou atenção não foi a vitória do PT, que sinceramente eu já esperava, mas sim, à ofensiva promovida pela direita conservadora do país, apoiada pela mídia nacional, a fim de atacar o governo e tentar eleger seu candidato a todo custo.
É fato que, nos últimos anos, os movimentos da direita conservadora e liberal brasileiro têm se tornado cada vez mais numerosos, notáveis e organizados. É claro, com todo apoio e suporte da mídia, desde televisa como impressa, personalizada na reacionária revista Veja. O mais absurdo de tudo isso é ver nas ruas e na internet gente defendendo um novo golpe militar, numa intensidade que não se esperava ver alguns anos atrás. Além de ser um retrocesso politico, é no mínimo inconsequente defender a volta de um regime ditatorial e autoritário, que durante anos, fez tão mal ao país.
Esse movimento inclusive, a meu ver, tende ameaçar a médio ou longo prazo o processo de democracia no país. Isso porque, não vejo uma organização de esquerda disposta a enfrentar esse movimento. Pelo contrário, o que vejo é acomodação de um governo que pensa estar acima de qualquer ameaça. Por sua vez, uma parcela significativa dos intelectuais sérios desse país, ou estão calados ou ainda se manifestam de forma tímida. Como afirmou Mather Luther King, “O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silencio dos bons.”.
Antes de prosseguir, gostaria de enfatizar que também não estou aqui para defender o governo petista, penso que ele tem falhas e cometeu muitos erros durante o tempo em que governa o país, por exemplo, em não fazer as reformas necessárias, como a política. No entanto, comparado aos 8 anos de governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, foi muito mais popular e eficiente, principalmente no que se refere a diminuição da pobreza e aumento do emprego e da renda do trabalhador.
No entanto, como disse o jornalista Breno Altman “a cruzada de direita para derrotar o PT convocou todos os demônios da sociedade brasileira. Preconceito social, racismo, homofobia, machismo, ódio regional, xenofobismo, fundamentalismo religioso”. Isso ficou evidente nessa campanha, que foi marcada por todos esses aspectos, alias, como aconteceu na última eleição, pregou-se novamente o preconceito contra o nordestino, já que a presidente sai vencedora na região nas duas eleições que disputou, inclusive com a sugestão fascista de alguns grupos de segregação da sociedade brasileira, separando o centro-sul do restante do país.
Nesse sentido, o principal argumento é de que o PT só conseguiu ganhar as eleições na região porque estabeleceu um curral eleitoral por meio do assistencialismo, com a distribuição de benefícios sociais, como o bolsa-família. De fato, há muitos beneficiários nessa região, mas esse argumento é facilmente superado, uma vez que o Nordeste concentra o maior número de pessoas abaixo da linha da pobreza, fruto de séculos de descaso e exploração. Desse modo, o bolsa-família mais do que uma esmola, como muitos cães raivosos defendem, é um instrumento de inclusão social, lembrando que há muitos critérios para o recebimento do beneficio, como ter o filho matriculado na escola regular dentre outras exigências.
Além disso, segundo dados da Caixa Econômica Federal, o 2º estado em número de beneficiários, depois da Bahia, é o estado de São Paulo. Isso mesmo, o estado mais rico da nação, maior reduto da direita brasileira e do PSDB é também um dos que mais recebem recursos do bolsa-família. Veja a contradição, típica de governos do PSDB, que já governa o estado de São Paulo há 20 anos e que vem implementando cada vez mais o choque de gestão, que alias, foi uma das propostas do candidato Aécio Neves, que por sua vez, aplicou a mesma política quando foi governador de Minas Gerais, que em tese, representa a defesa do estado mínimo, com diminuição dos direitos sociais e aumento cada vez maior de privatizações e parcerias publico-privadas.
Mas não vamos nos enganar, sabemos que o que está em jogo é o poder. E isso vale para ambos os lados, tanto para o PT, que vem perdendo cada vez mais sua essência, corrompido aos poucos por um sistema politico viciado, corrupto e de cartas marcadas, como para o PSDB, que quer a todo custo implementar no país seu projeto neoliberal de transformação econômica, social e politica do capitalismo.
Por sua vez, a candidata Marina Silva da Rede Sustentabilidade, com toda sua trajetória politica, de defesa do Meio Ambiente, que já foi do PT e que nessa eleição poderia ser uma terceira via, ou seja, uma alternativa viável no cenário politico nacional tão carente de renovação pareceu ceder ao velho dualismo PT/PSDB, uma vez que por iniciativa pessoal ou por orientação de seu partido, não se sabe, acabou apoiando o candidato Aécio Neves no 2º turno, o mesmo que ela criticava antes, considerando-o representante da velha politica. O tiro saiu pela culatra.
Desse modo, o que me preocupa nesse momento são os rumos do país. Se for verdade que avançamos muito nesses últimos anos, principalmente nos indicadores sociais, há ainda muito a se fazer e as condições atuais não são favoráveis. O mercado e os seus especuladores não vão sossegar enquanto não tiverem um representante de sua “confiança”. Para tanto, como diz o jornalista Mauro Santayana, “contam com uma direita radical, mal informada e burra, que acha que, para ir contra o governo, precisa torcer contra o país.”.
Bom, não é difícil, basta ligar a TV ou abrir o jornal e veremos o discurso tendencioso que vende a imagem de um país em crise permanente. Alias os meios de comunicação brasileira, em minha opinião, são os grandes responsáveis pela ascensão e massificação das ideias da direita conservadora, pregando-se todos os dias noticias ruins, de um país em colapso, com juros e inflação alta, com uma economia frágil, enfim, um maquina a serviço dos interesses da oposição.
Além disso, incitam-se todos os dias o papel da oposição contra o governo, quer dizer, em vez de estimular o dialogo e o entendimento a favor do avanço do Brasil, como propôs a presidente Dilma Roussef em seu discurso de posse, propaga-se a ideologia do anti-petismo. Alías, podemos indagar também: oposição de quem? Para quem? Quais seriam os interesses reais dessa suposta oposição politica?
Sendo assim, a politica tradicional, genuína, sai de cena e em seu lugar, entra o marketing eleitoral, a desregulamentação e a banalização, num processo chamado de Cegueira Moral pelo sociólogo Zygmunt Bauman. Quer dizer, os temas de interesse público, como saúde e educação, por exemplo, são substituídos por questões de âmbito privado, de interesses corporativos e econômicos.
Portanto, o que se vê é uma crise de representatividade política. Não por acaso, é cada vez mais comum a presença no legislativo de figuras ultraconservadoras como Jair Bolsonaro, Marcos Feliciano, dentre outras figuras cômicas como o palhaço Tiririca.
Nesse cenário, só resta ao PT e sua grande base, os movimentos sociais, que desde a sua fundação nos anos 80, após o fim da Ditadura Militar, lutaram pela redemocratização do país e que nesse momento, tem todas as condições de iniciar um movimento a altura desse ataque da direita conservadora. Enfim, devem lutar por uma representação e legitimidade que lhe foram garantidas de forma democrática, pela maioria da população.