segunda-feira, 23 de julho de 2012

O Rock "Politizado" Brasileiro dos Anos 80 - Matéria Jornal Unesp



O sentimento de uma geração
Sociólogo estuda rebeldia do rock nos anos 80

A explosão do rock nacional, na década de 80, influenciou não só toda uma geração de jovens, como contribuiu para o processo de reabertura política no Brasil. A atitude politizada e contestadora de bandas como Ira!, Ultraje a Rigor, Plebe Rude e Legião Urbana, assim como o crescimento do movimento punk nos subúrbios paulistanos no período, ultrapassou o universo musical e incentivou adolescentes de todo o País a reagir contra a repressão imposta pela ditadura militar. 

Segundo o sociólogo Clóvis Santa Fé Júnior, autor da dissertação de mestrado “Rock Politizado Brasileiro dos anos 80”, apresentada na Faculdade de Ciências e Letras da UNESP, campus de Araraquara, as canções engajadas do período serviram como forma de conscientização para uma juventude que, às vésperas da redemocratização, com as campanhas das Diretas Já, assistia à tão sonhada liberdade de expressão tornar-se uma realidade. Santa Fé, orientado em seu trabalho pelo cientista social Marcelo Siqueira Ridenti, então docente da UNESP e hoje na Unicamp, explica que, após um período de mais de 20 anos submetidos à repressão dos militares, os jovens, influenciados por essa nova geração de roqueiros, começaram, pouco a pouco, a buscar e a reaprender o conceito de democracia, solapado desde o golpe de 1964. “Nos anos 80 os roqueiros dirigiam suas críticas a diversos setores da sociedade, como a política, a economia e o comportamento”, afirma. 

Uma das principais preocupações do sociólogo foi resgatar o ponto de vista das bandas e do público nos anos 80. Por isso, Santa Fé preferiu não entrevistar os roqueiros da época já que, segundo ele, após vinte anos, grande parte não conservava mais a mesma rebeldia. Seu trabalho foi baseado em pesquisas em diversos materiais remanescentes da época, principalmente publicações especializadas em música, como as revistas Bizz e Roll, em edições de 1985 a 1990. “Esse material me ajudou a retratar aquilo que pensavam os roqueiros e o público nesse período”, afirma.

A participação da indústria cultural no segmento do rock também é enfocada por Santa Fé. 

“As bandas dos anos 80 conseguiam traduzir a realidade e a angústia vivida pelos jovens, principalmente os urbanos. Por isso, elas foram consideradas pelas gravadoras como um investimento seguro e lucrativo”, afirma. “Nessa época, o rock realmente se popularizou e vendeu muitos discos, mas, com o tempo, aquele espírito crítico e contestador acabou se perdendo, ou pelo menos, tornou-se menos explícito.” (Veja quadro.)

O sociólogo acrescenta que embora o segmento politizado do rock nos anos 80 tenha nascido em um circuito musical alternativo, “feito por jovens para os jovens”, muitos grupos e artistas aderiram ao esquema comercial das gravadoras com a desculpa de que, por meio delas, suas mensagens poderiam ser veiculadas com mais facilidade. “Isso ajudou o processo de massificação da música no Brasil, que, para se consolidar, ainda precisava atingir o público jovem”, conclui Santa Fé.

Contestação permanece
Vocalista do Ira elogia bandas como O Rappa

Ao que parece, as mensagens engajadas e contestadoras que marcaram muitos dos sucessos das bandas nacionais na década de 1980 não têm a mesma importância para o cenário do rock brasileiro atual. Segundo o sociólogo Clóvis Santa Fé, os hits de maior popularidade entre os jovens no País são, em sua maioria, comerciais e descompromissados com causas políticas e sociais. Para ele, a conquista definitiva da liberdade de expressão, o combate ao preconceito e a consolidação do espaço para a música jovem no País foi a grande herança dos grupos dos anos 80 para essa geração do rock. “O lema punk do it your self – ‘Faça você mesmo!’ –, que influenciou grande parte das bandas daquela época, não foi abandonado e, graças a ele, o circuito musical alternativo vem crescendo e dando origem a novos grupos e selos independentes”, afirma. 

Para Nasi, vocalista da banda Ira!, apesar das imposições por parte da indústria fonográfica, a cena do rock nacional entre as décadas de 1990 e 2000 também rendeu bons frutos. Segundo ele, bandas como O Rapa, Planet Hemp e Nação Zumbi, são inovadoras e retratam com clareza a realidade atual no Brasil. “Bandas como essas representam, para a geração atual, aquele espírito contestador do Rock nos anos 80”, afirma. “Uma alternativa não só para os novos grupos musicais, mas também para o público, são as rádios comunitárias”, afirma. 

Otimista em relação ao futuro da música e do rock no Brasil, Nasi acrescenta que o verdadeiro talento é capaz de ultrapassar qualquer barreira. “Quando comecei a tocar nunca imaginei que o rock se tornaria uma espécie de indústria”, afirma. “Mas tenho esperanças. No filme Jurassic Park, de Steven Spielberg, há uma frase que diz ‘A vida encontrará um caminho’. Acredito que o mesmo acontece com a música”, compara. “No momento, o rap vem sendo o agente de contestação mais contundente da música brasileira.”

sexta-feira, 20 de julho de 2012

"Onde é que está meu Rock and Roll?"


Cléder Aparecido Santa-Fé
casantafe@gmail.com

A pergunta que não quer calar está no título desta postagem, referência da música "Será que eu vou virar bolor?" de Arnaldo Baptista. Essa canção me estimulou a propor essa discussão, bem sugestiva por sinal, para refletirmos acerca do Dia Mundial do Rock ocorrido no último dia 13 de julho.


Eu sou apreciador de música de qualidade e tenho reparado que a principal função da “Indústria Cultural” na atualidade, termo criado pelos filósofos da Escola de Frankfurt, é desvincular a arte do entretenimento, com conotações negativas para o primeiro conceito e de prazer para o segundo.


Eu gosto muito de rock, porém o mesmo se tornou o grande carro chefe do capitalismo.  Os empresários da “arte” perceberam que o viés rebelde e contestador deste gênero musical serviriam para atender as demandas de consumo das futuras gerações de jovens e conseguintemente integrá-los a sociedade de consumo.  Foi nesse instante que o rock se tornou uma das maiores mercadorias do universo. Para embasar esta afirmação, segue uma matéria do Estadão no link a seguir: http://economia.estadao.com.br/noticias/economia%20brasil,rock-in-rio-grandes-investimentos-em-25-anos-de-historia,86067,0.htm


O nosso grande Raulzito alegou que o Rock teria morrido em 1959 e descreveu que todo o resto do estilo é resultado da invenção fabril, conforme entrevista à Revista Bizz em 1986.


Em suma, o “Maluco Beleza” tem toda a razão e verifica-se ainda que os diversos estilos locais, de raízes culturais brasileiras, como o pagode, o sertanejo e o forró tiveram sua estrutura melódica atualizada para agradar os ouvintes globalizados do mercado mundial atual.  O resultado de tudo isso é que temos amplamente divulgadas músicas de qualidade questionável e artistas que não se assemelham em nada ao gênero que acreditam defender.  Luan Santana, Gusttavo Lima, Michel Teló, Restart, Inimigos da HP nada mais são que inúmeros Frankensteins tendo por base rítmica o pop-rock e mesclado com os diversos ritmos regionais.


Os admiradores das vertentes do “metal” estão totalmente alienados neste estilo, constituindo-se uma religião ortodoxa, acrítica e vivendo em um constante déjà vu de temas demasiadamente explorados por este segmento, por exemplo, o satanismo.


Se eu estivesse com mais tempo, desenvolveria mais considerações acerca deste tema, portanto, para mim só resta indagar “Onde é que está meu Rock and Roll”?


OBS:
Gostaria de referenciar e também indicar como sugestão de leitura a dissertação de mestrado de autoria do Senhor Clóvis Santa Fé Júnior intitulada O Rock "Politizado" Brasileiro dos anos 80 apresentada na Faculdade de Ciências e Letras da UNESP de Araraquara para maior embasamento do tema.