terça-feira, 2 de outubro de 2018

A grave crise da fome no Brasil



Fábio Augusto da Silva Lima


“Vamos correr juntos, por um mundo sem fome.”
Usain Bolt – Campeão Olímpico

A fome não causa mais espanto. Não há como negar, a fome e a miséria são realidade no Brasil. Em pleno século XXI, nosso pais figura no mapa da fome novamente. Segundo dados do IBGE, os números apontam que mais de 5,2 milhões de pessoas passaram um dia ou mais sem consumir alimentos ao longo de 2017, o que corresponde a 2,5% da população brasileira.

Ao mesmo tempo, nunca se produziu tanto alimento no mundo todo. Inclusive, o Brasil é um dos maiores produtores de alimento do planeta. No entanto, as desigualdades e a concentração de renda de uma minoria privilegiada, só faz aumentar esse flagelo e miséria desses humanos invisíveis. 

Esse contexto deveria incomodar a todos, pois como escreveu o escritor argentino Adolfo Perez Esquivel, Premio Nobel da Paz, “Em um mundo que produz alimentos suficientes para dar de comer a todos os seus habitantes, a fome nada mais é do que um crime contra a humanidade”. 

O fato é que a fome está presente em todos os lugares. Seja ao vivo ou pela TV, impossível não assistir o desespero de pessoas pobres e vulneráveis que vivem nas condições mais humilhantes e degradantes do ponto de vista humano, perambulando pelas ruas, em busca de algum tipo de alimento que lhes possa confortar. 

Desse modo, não precisamos passar fome para se solidarizar e denunciar essa realidade perversa do nosso cotidiano. Na verdade, temos que fazer mais por essas pessoas. Não podemos permitir, nem nos permitir, que elas continuem invisíveis pelo país afora, entregues a própria sorte.

Não querer enxergar esse fato e não querer discutir as causas mais profundas de como erradicar a fome e a pobreza é algo criminoso. É dever de todos, tanto do Estado, nos seus diferentes níveis (federal, estadual e municipal) até da sociedade civil organizada debater sobre os impactos dessa situação alarmante e procurar soluções para esse grave problema social. O Brasil até teve uma iniciativa exemplar de implementar um programa de combate a fome, o Fome Zero, durante o governo Lula, em 2003, que acabou não se consolidando como uma política permanente de combate a fome.

Inclusive, dados da própria Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura -FAO indicam que o número de pessoas afetadas pela fome no mundo aumentou nos últimos anos, com 815 milhões de habitantes sofrendo de desnutrição crônica em 2016. No Brasil, segundo dados da ONU, de 2014 a 2016, o número de pessoas em extrema pobreza no Brasil saltou de 5.162.737 para 9.972.090. A título de comparação, no mundo todo, de 2015 para 2016, os conflitos armados e crise econômica provocaram crescimento da fome, atingindo mais de 800 milhões de pessoas. 

Nesse sentido, como não se lembrar de um menino de 8 anos, do Distrito Federal, que em novembro de 2017, desmaiou durante o trajeto para a escola, que ficava a cerca de 30 quilômetros de onde ele morava, pois estava com fome, já que não tinha almoçado naquele dia, uma vez que não havia comida na casa em que vivia. 

Isso mostra o retrocesso no desenvolvimento social do nosso país, já que há uma relação direta entre a fome e a exclusão social. Ou seja, quanto maior for a desigualdade e a concentração de renda de uma sociedade, mais pobreza e miséria elas terão. O Brasil, infelizmente, não foge a essa regra.

Por isso é tão importante que o Governo brasileiro trate a crise da fome como um problema de Estado e se comprometa a aumentar os recursos destinados ao combate da fome e da desigualdade social. Desse modo “Enfrentar a fome é enfrentar a pobreza extrema. Na medida em que se coloca a questão da alimentação no âmbito da saúde pública, trilhamos o caminho certo“, disse o economista Francisco Menezes, coordenador do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase). 

Além do mais, a questão da fome está diretamente relacionada com a pauta dos direitos humanos, que é a base de uma sociedade que se pretende ser democrática, fraterna e solidaria, na busca e construção de uma sociedade igualitária. Por isso, é urgente que fortaleçamos os programas de combate a fome e a miséria, oferecendo ajuda e apoio aos que tem fome, além de oportunidades de melhorar suas vidas. Apenas assim, eles poderão afirmar seus valores e desfrutar de uma vida digna.

Portanto, diante desse cenário, devemos considerar que os mais pobres são aqueles que mais precisam do apoio e da solidariedade do Governo brasileiro e da sociedade civil organizada. O problema da fome no Brasil é grave e exige medidas urgentes. Somente com esse compromisso é que poderemos erradicar a fome e construir uma sociedade mais justa e mais humana para todos.