sábado, 24 de novembro de 2012

Na medida da estética padrão


Fábio Augusto da Silva Lima
Contato: fabioasl@gmail.com

No último domingo fiz algo que tem sido raro no meu cotidiano ultimamente: assistia televisão a noite, acompanhando o quadro “Na Medida Certa” do programa Fantástico da TV Globo, no qual o ex-jogador Ronaldo Fenômeno enfrenta vários desafios para perder peso. No último episodio, ele passou várias horas treinando e dançando com bailarinas, a fim de perder calorias.
Ora, a primeira impressão que se dá, ingenuamente falando, é que bela iniciativa da emissora, preocupada com a saúde e bem estar da população. Para tanto, nos mostra a luta diária de um dos maiores ídolos do futebol brasileiro contra a balança, por meio de uma rígida dieta. Um grande exemplo de superação de alguém que já passou por tantas dificuldades e obstáculos, seja na vida, seja no futebol.
A questão é que agora, pensando numa perspectiva critica, que isso não passa de uma lavagem cerebral. Primeiro porque sabemos que o objetivo desse quadro, que está oculto, não é promover a saúde da população, mas sim, impor um modelo de beleza, afinal, a Mídia a todo o momento faz isso, dizendo que temos que ser magros para ter sucesso, para ser aceito pela sociedade. Para isso, basta vermos os padrões de beleza das telenovelas, por exemplo, promovido pela mesma TV Globo.
Segundo porque a emissora que promove esse programa é a mesma que lucra bilhões de dólares com publicidade e propaganda das mais diversas empresas, inclusive da indústria alimentícia, grande vilã e responsável pelo crescimento da obesidade na população, principalmente entre as crianças.
Se isso tudo já não bastasse, estamos no Brasil, um país em que, segundo o IBGE, aproximadamente 13 milhões de pessoas passam fome ou sofrem com desnutrição. Se pensarmos nessa situação, deveria causar espanto e indignação esse tipo de programa.
Mas infelizmente, não é essa a realidade. O quadro tem sido bem-sucedido, alcançando grandes índices de audiência. Isso mostra que deu certo a estratégia da TV Globo, ou seja, explorar a imagem de um brasileiro que tem grande carisma e apelo popular. Ao mesmo tempo, Ronaldo também se beneficia dessa parceria, pois além do aumento nos seus lucros, não pensem que ele não esteja ganhando muito dinheiro para fazer isso, reforça a sua boa imagem frente à população brasileira.
Nesse contexto, desencadeia-se, inevitavelmente, uma busca intensa pela boa forma, por meio de regimes, academias, corridas, caminhadas e tudo mais que possa representar a conquista do modelo de beleza vigente. Veja, não quero dizer que sou contra essas iniciativas, eu mesmo adoro andar de bicicleta, o paradoxo é que esses instrumentos, ao mesmo tempo em que pretendem promover a saúde da população, também servem de regulação e imposição à estética padrão.
Alias, toda essa busca hedonista e desmedida da beleza me fez lembrar a mitologia grega. Por exemplo, que não se lembra do famoso mito da Grécia antiga sobre Narciso, que se apaixona pela própria imagem refletida na água, mas que morre de inanição tentando acariciá-la pelo resto da vida. Em suma, esse mito nos mostra que a beleza é transitória e efêmera. Portanto, será que vale a pena se sujeitar a isso?
Para terminar, se quisermos realmente contribuir com a saúde da população brasileira, para além de um reality show dominical, devemos começar fazendo isso nas escolas, trabalhando com todas as faixas etárias, incentivando as crianças e jovens a praticarem esportes, a terem uma boa alimentação, enfim, por meio de uma educação alimentar transformadora, que possa superar os hábitos, costumes e padrões impostos pela Sociedade de Consumo.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Para onde vai à escola?



Fabio Augusto da Silva Lima
Contato: fabioasl@gmail.com

Ultimamente tenho me indagado sobre o sentido da escola no mundo contemporâneo. Alguns poderiam dizer que a escola é o local de ensino e aprendizagem de crianças e jovens, de informação e conhecimento, bem como formadora das futuras gerações. Ora, se for pensarmos nos dias atuais, existe outros meios que também realizam esse papel, como a Mídia e a religião, por exemplo. E aqui, não se trata de exaltar essa diversidade, o que quero dizer, é que nesse sentido, a escola vem progressivamente perdendo sua função de ser. 
No que se refere à religião, sabemos que Igreja, no caso a católica, sempre esteve presente nos processos educacionais do mundo ocidental moderno, influenciando no modelo de escola, nos currículos, principalmente no continente europeu, mas também atuando nas colônias, aja vista o processo de catequização dos índios brasileiros pelos jesuítas. Na atualidade, embora tenha perdido força, a Igreja católica ainda exerce certa influencia na educação, mas não há dúvida de que quem se destaca são as Igrejas evangélicas. No entanto, não quero entrar aqui no mérito se educam bem ou mal, mas afirmo que educa.
Porém, a grande concorrente da escola é a Mídia, principalmente por meio da televisão e a internet. No caso da televisão, é ela que dita os modos, hábitos e costumes das pessoas, o que é certo ou errado, o que é belo e o que é feio, etc. Desse modo, a televisão exerce sua influencia por meio do poder das imagens e tem nas novelas, sua grande joia. Já a internet se destaca pela infinidade de informações e conteúdos que oferece, pela sua dinâmica e rapidez, possibilitando a conexão e interação de pessoas das mais diferentes partes do mundo de forma quase instantânea.
E a escola? Ora, a escola como afirma o filósofo Mario Cortella, tem alunos do século XXI, professores do século XX e metodologias do século XIX. Ou seja, enquanto a sociedade e o mundo se transformaram, a escola continua a mesma, tradicional, conservadora e anacrônica.
Nesse sentido, nos cabe fazer a pergunta do titulo desse artigo: Para onde vai à escola? Se continuar assim, com certeza irá entrar em desuso, se tornar obsoleta, uma instituição sem nenhuma finalidade. Mas será então que é possível resgatar a escola desse fim?
Eu acredito que sim, mas para isso, no entanto, é preciso que a escola se reinvente, se renove. Em primeiro lugar ela deve ser socializadora da diversidade presente na nossa sociedade.  Além disso, é importante que ela esteja conectada com o seu entorno, possibilitando a participação da comunidade nas suas decisões, e que seja, sobretudo, ativa, criadora e transformadora. E mais. A escola deve fazer sentido para o aluno, estimular seu envolvimento, curiosidade e criatividade.
Para tanto, é preciso que a escola tenha autonomia. Como diz o educador José Pacheco, da Escola da Ponte em Portugal, autonomia não se dá, se constrói. Nesse sentido, é importante que a autonomia seja construída junto com todos os participantes da escola, mas principalmente com os alunos. Assim, essa nova escola poderá possibilitar, lembremos Paulo freire, uma autonomia enquanto prática de liberdade. Esse seria talvez, um bom caminho a seguir.