sábado, 19 de julho de 2014

Brasil x Alemanha: se a goleada fosse só no campo, mas...


Fábio Augusto da Silva Lima

Chegou ao final, no ultimo domingo, a Copa do Mundo 2014, realizada no Maracanã, na cidade do Rio de Janeiro. Como previsto, antes do torneio, venceu o melhor time, a Alemanha, seleção que apresentou o futebol mais vistoso desde o início da competição, que se não foi brilhante, foi eficiente e vitorioso, diferente do futebol brasileiro, que se despediu com um melancólico 4º lugar.
Se fora de campo, o Brasil conseguiu superar os temores sobre as possíveis dificuldades e problemas de toda ordem, que poderiam acontecer durante o evento, realizando com grande êxito a Copa do Mundo, dentro de campo não podemos dizer o mesmo. Nossa seleção brasileira apresentou uma grande defasagem no que se refere ao futebol moderno, tanto em termos táticos, quanto técnicos e emocionais.
Aliás, comparando o futebol alemão com o futebol brasileiro, fica evidente o contraste dentro de campo, haja vista a sonora goleada de 7x1 aplicada pelos alemães na semifinal do mundial. Esse resultado só comprova as diferenças entre os dois países, que vai muito além do esporte.
Na verdade, venceu a organização, a seriedade, o comprometimento e o profissionalismo alemão contra a desorganização, o imediatismo, o improviso e o jeitinho brasileiro. De fato, se fizermos uma análise mais profunda, digo em termos culturais, essa comparação serve para mostrar a enorme distancia entre os dois países, não só no futebol, mas em outros processos sociais também.
Na educação, por exemplo, a Alemanha apresenta os melhores índices de escolaridade, que refletem diretamente nos resultados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA) que tem como objetivo avaliar a cada 3 anos o nível de conhecimento dos alunos nas áreas de matemática, leitura e ciências. Nesse caso, o país europeu, segundo dados da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), ocupa a 16º posição, diferente do Brasil, que encontra-se apenas na 58º posição, atrás de países como Chile, México, Costa Rica e Uruguai. Não por acaso, o país alemão já conquistou 102 prêmios Nobel nas mais diferentes categorias, enquanto o Brasil ainda não possui nenhum.
Em termos políticos, a nação alemã possui uma democracia muito mais avançada e sólida que a nossa, tanto em níveis de participação das pessoas na vida pública quanto nas decisões que incidem diretamente na saúde e na qualidade de vida de seu povo, que, aliás, é uma das melhores do mundo, com uma expectativa de vida da população de aproximadamente 89 anos.
Já em termos econômicos, o país europeu está muito a frente do Brasil, principalmente na área de pesquisa e tecnologia, lembrando que a Alemanha é uma das maiores produtoras de energia renovável e sustentável do mundo, diferente de nós que preferimos destruir florestas e reservas indígenas para construção de hidrelétricas.
Nesse sentido, essa análise nos permite lembrar o historiador Sergio Buarque de Holanda, quando diz em sua grande obra “Raízes do Brasil”, que o brasileiro ainda preserva características da herança colonial portuguesa em diferentes aspectos, no qual destacaria dois aqui: o primeiro diz respeito à postura decordialidade refletida na individualidade personalizada no “ídolo” Neymar, acima da coletividade, do trabalho em grupo; e o segundo ao espirito aventureiro, que remete ao fato do brasileiro acreditar que tudo é possível alcançar, mesmo sem planejamento, afinal somos o povo da criatividade e da improvisação.
Isso ficou claro no jogo entre as duas seleções, quando vimos o Brasil partir desesperadamente ao ataque, após o 1º gol da equipe alemã, aventurando-se de forma quixotesca e inconsequente contra uma seleção muito mais preparada e organizada taticamente em campo. Esperava-se talvez que o improviso e a criatividade do jogador brasileiro pudessem fazer a diferença no jogo. Mas não, nem o jeitinho conseguiu tal êxito, o futebol coletivo venceu o individualismo.
De fato, o futebol mundial mudou muito nos últimos anos, passamos a época do amadorismo, hoje se pensa de forma profissional o esporte, mas infelizmente, parece que a mentalidade daqueles que dirigem o futebol brasileiro não mudou. Na verdade, ainda imperam na CBF os interesses pessoais, o clientelismo, a troca de favores, os lucros exorbitantes com patrocínios, em detrimento da evolução, do profissionalismo e da qualidade do nosso futebol.
Por fim, se dizem que às vezes a queda é necessária, pois nos reerguemos mais fortes, que essa derrota da seleção brasileira sirva não só de analise e reflexão, mas que estabeleça um marco para uma mudança estrutural, de pensamento e postura daqueles que estão à frente das decisões do futebol, enfim, que aprendam que a conquista de uma Copa do Mundo passa pelo investimento maciço no esporte como um todo, com incentivos desde as categorias de base, de forma planejada, organizada e profissional, mas não só, passa principalmente pelo investimento em educação, pois como diz Paulo Freire, ela é um dos principais instrumentos para transformação social, e por que não, do futebol nacional. Ora, a Alemanha fez isso com seu futebol há doze anos, e hoje colhe bons resultados, por que então não seguimos esse exemplo?

Referencias
HOLANDA, Sergio Buarque de. Raízes do Brasil. Companhia das Letras. São Paulo, 1998.

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