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Em 1989, após a queda do Muro de Berlim e o
fim da Guerra Fria, com o estabelecimento do EUA como grande potência do século
XX, ressurgiu a ideia do fim da história, a partir dos escritos do economista americano
Francis Fukuyama. Desse modo, segundo o
autor, o capitalismo e a democracia teriam se consolidado e o Liberalismo, no
ápice de sua hegemonia, vencido todas as ideologias.
Enfim, dentro dessa lógica, seriam o fim
dos processos históricos anteriores, pois o mundo e a humanidade enfim teriam chegado
ao equilíbrio e progresso proposto pelo filosofo Hegel ainda no século XVIII.
No entanto, Heráclito, filosofo da Grécia
antiga e considerado o pai da História já considerava desde a Antiguidade que
tudo o que existe está em constante mudança ou transformação. Portanto, após um
pouco mais de duas décadas desses postulados liberais, ao analisarmos o contexto
atual, vemos que eles perderam a validade ou não se sustentam mais. Isso porque
a História, ao invés de acabar, continua sua trajetória e fluxo permanente num
mundo em turbulência.
Temos muitos exemplos desse processo, como
por exemplo, os conflitos políticos gerados pela Primavera árabe no Egito em
2011, pelos indignados da Espanha e os manifestantes de Wall Street nos EUA no
mesmo ano, os protestos políticos no Brasil em 2013, dentre outros movimentos pelo
mundo que questionam e criticam a atual ordem dominante e reivindicam novas
demandas, políticas, sociais e econômicas, com mais direitos sociais e
liberdades individuais.
No Brasil, os protestos de 2013 trouxeram à
tona o descontentamento da maioria da população com o sistema político brasileiro
estabelecido, já que não se sentem representados pelos governos, em todas as suas
esferas, federal, estadual e municipal.
Ora, diante desses exemplos, fica evidente
que a História não terminou, pelo contrário, só mostra, na verdade, que esse sistema
se esgotou e não contempla o bem-estar e direito de todos a uma vida digna, já
que é desigual e desumano, privilegiando o lucro dos bancos e das grandes
corporações, e ainda se encontra em crises permanentes.
Além disso, todas as medidas tomadas na
Europa, por exemplo, com o objetivo de superar a crise atual não surtem efeito,
pelo contrário, as medidas de austeridade implementadas nos países da zona do
euro, só aumentam as dificuldades da população mais pobre, com o corte de
direitos e benefícios sociais, afim de se manter os pilares da política
econômica europeia e sustentar os interesses da Troika, do Banco Europeu e do
FMI. Nesse contexto, a Grécia é a vítima da vez dos interesses do capital
financeiro.
Inclusive, o próprio Papa Francisco, que representa
uma das instituições mais conservadoras e mantenedoras desse sistema, a Igreja
Católica, fez duras críticas ao Capitalismo em sua visita recente a Bolívia, afirmando
que ele é uma forma de ditadura sutil, que não se sustenta mais, propondo uma mudança
radical de estrutura, tanto econômica quanto social, pois segundo ele o
Capitalismo “impôs a lógica dos lucros a
qualquer custo, sem pensar na exclusão social ou na destruição da natureza”.
Nesse sentido, contrariando as “previsões”
liberais de Fukuyama, a partir do que foi exposto, fica claro que a História, não
só não acabou como ela continua viva, em movimento e continua testemunha de
todas as mudanças estruturais e de suas consequências ao longo dos tempos.
Mas como dizia o grande escritor latino-americano
Eduardo Galeano, “até que os leões tenham
seus próprios historiadores, as histórias de caçadas continuam glorificando o
caçador”. Quer dizer, enquanto a História for contada do ponto de vista
dominante, continuará prevalecendo a gloria dos vencedores, entendam-se
dominadores e opressores, em detrimento dos dominados e oprimidos.
No entanto, não quero me limitar também a
uma visão de história unicamente materialista, de uma perspectiva marxista de
luta de classes, mas indo além, sabemos que a evolução das sociedades humanas é
dinâmica e diversificada, de fato, não podemos nos limitar a um único olhar de
História, mas considerar outros pontos de vista, como a cultura e evolução dos
diferentes povos, por exemplo.
Por fim, considero que outra lição
importante da História, e que está por trás dos processos históricos são as
utopias. Em sua etimologia, segundo o dicionário Houaiss, utopia significaria o
“lugar ou
estado ideal, de completa felicidade e harmonia entre os indivíduos” Inclusive, o pensador inglês Thomas More (1478-1535) escreveu
ainda na Idade Média a sua obra mais conhecida, intitulada Utopia. Nela, o
autor propõe a existência de uma sociedade ideal, alternativa ao estado
absolutista inglês, no qual ele vivia. Portanto, idealiza uma sociedade livre,
tolerante, que respeite a diversidade e que viva em harmonia, sendo justa e
democrática.
Desde então, são as
utopias que movem e continuam movendo o ser humano na busca de sua essência. É
fato, ela está na sua origem, na sua memória coletiva. Como bem disse, mais uma
vez Eduardo Galeano, “A utopia está lá no
horizonte. Aproximo-me dois passos, ela se afasta dois passos. Caminhos dez
passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais
alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.
”
Portanto,
a todos aqueles que acreditam na História e nas utopias, caminhemos, pois mais
importante do que pensar no futuro e olhar para o passado. Mas não só olhar,
mas, sobretudo, aprender com ele. Essa é a maior lição!!!
Referências:
BORGES, Vavy Pacheco. O que é história. IN
BORGES, Vavy Pacheco. O que é história. São Paulo: Brasiliense, 1989.
GALEANO, Eduardo. O Livro dos Abraços. Porto
Alegre: L&PM, 1995.
MORE, Thomas. Utopia. Tradução de Pietro Nasetti.
São Paulo: Martin Claret, 2005.