Fábio Augusto da Silva Lima
Contato: fabioasl@gmail.com
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No século passado, o escritor austríaco Stevan Zweig, publicou em 1941 o livro “Brasil, País do Futuro”, obra que tinha um tom empolgante e ufanista das terras tupiniquins, que projetava de fato, um gigante a despertar para o futuro. Desde então, o país convive com essa promessa de ser o país do futuro. No entanto, ao olhar para nossa realidade, percebemos que essa promessa está cada vez mais longe de se concretizar.
Nem bem começamos o ano de 2017 e já temos a sensação que no Brasil, o passado arcaico, conservador e antidemocrático ainda se faz presente. Basta olharmos o atual cenário político, econômico e social do país. São muitos fatos que evidenciam esse passado “temeroso” ainda presentes.
Na questão política, convivemos com um governo ilegítimo, impopular e corrupto, composto por uma elite politica anacrônica, de homens brancos e velhos, que liderado pelo “presidente” Michel Temer, propõe medidas de austeridade, de corte de investimentos públicos, de diminuição do estado, que apresenta um caráter conservador e antidemocrático, a começar pelo seu slogan “Ordem e Progresso” que remete ao período da Ditadura Militar.
Se tudo isso já não fosse uma tragédia, o sistema politico como um todo sofre de uma crise de representatividade, em todos os níveis e poderes, corroída por uma corrupção estrutural e generalizada. A Operação Lava Jato, deflagrada pela Policia Federal, bem como outras investigações, estão trazendo a tona inúmeros casos de crimes envolvendo políticos, banqueiros e empresários.
No que se refere à Economia, vivemos um dos piores momentos da história recente do país, com aumento expressivo da inflação, da perda de renda, e aumento do desemprego que atingem mais de 12 milhões de brasileiros. Tanto que em uma pesquisa recente, elaborada pela Organização Internacional do Trabalho, diz que nos próximos anos, de cada 3 desempregados no mundo, 1 será brasileiro. Diante dessa projeção alarmista, é inevitável não compararmos essa situação ao período do governo de José Sarney, nos anos 80, de grande crise política e econômica.
A questão social no Brasil ainda é uma das grandes mazelas do país, desde a sua colonização. Vivemos uma desigualdade cada vez maior, com um pequeno grupo rico, privilegiado, que enriquece à custa de uma maioria pobre e miserável. Os serviços públicos, como saúde e educação, por exemplo, estão cada vez mais sucateados.
O SUS, já sobrecarregado, não dá conta de pacientes que lotam os postos de saúde e hospitais todos os dias, com uma população exposta a todos os tipos de tragédia, assustadas com epidemias de dengue, febre amarela e outras, da falta de saneamento básico, do desinteresse e da péssima gestão da saúde pública.
Na Educação, ainda vivemos, em pleno século XXI, com altas taxas de analfabetismo e de crianças e jovens fora da escola. Com relação a qualidade, nossa situação é alarmante. O PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) apresentou os dados da sua avaliação de 2015, que mostra que o país ficou na 63ª posição em ciências, na 59ª em leitura e na 66ª colocação em matemática, o que representa uma queda expressiva com relação a avaliação anterior, de 2012, atrás de países como Colômbia e Uruguai.
No que se refere à violência, o país beira ao caos, com altíssimas taxas de criminalidade e de mortes, fruto principalmente da desigualdade, do trafico de drogas e de armas e da falta de políticas públicas em segurança pública. Não por acaso, a maior parte da população que morre são de negros, da periferia, na faixa etária de 24 anos, em média. As prisões do Brasil, certa vez denominadas por um próprio ministro da justiça de “medievais” pela falta mínima de estrutura e de condições básicas de atendimento aos presos, convivem quase que diariamente com conflitos, rebeliões, fugas e até carnificinas, como temos acompanhando ultimamente.
Diante dessa “pavorosa” realidade exposta até aqui, impossível não comparar o atual cenário brasileiro ao nosso passado de escravidão, desigualdade, barbáries e injustiças sociais. Diante disso, a pergunta que fica é: Onde está o Brasil, o país do futuro?
Para o grande sociólogo polonês Zygmunt Baumman, vivemos a época do fim do futuro, ou seja, da perda de referências políticas, culturais e morais da civilização. O Estado politico moderno foi substituído por um “estado de crise” permanente, em que os governos se tornam cada vez mais impotentes diante das crises e das demandas da sociedade, cada vez mais globais e conectadas em rede.
Além disso, vivemos uma época em que tudo se faz para “parecer ser”, quer dizer, o governo faz parecer que governa para o povo, mas não governa, justamente para manter as coisas onde elas estão, ou seja, reproduzir seus interesses, privilégios e o status quo politico, econômico e social das elites do país.
Por outro lado, os brasileiros estão cansados de esperar por esse “país do futuro”. Agora, eles querem o país do presente, do agora, não querem mais promessas que não são cumpridas, querem ser adultos, sem esperar esse futuro incerto, porque o relógio da História não espera.
No entanto, não há nenhuma perspectiva de que as coisas possam melhorar no país a curto ou médio prazo. Na verdade, como alguém disse um dia “vai piorar muito antes de melhorar”. Se assim for, só nos resta o pessimismo e o desencanto. Como bem disse Rubem Alves, “No tempo da ditadura havia mais esperança. Era noite e nós sonhávamos sonhos lindos. Aí ela se foi e os sonhos não se realizaram. Agora é difícil sonhar.” Feliz ano velho!
Referências:
ALVES, Rubem. Ostra feliz não faz pérola. São Paulo: Planeta do Brasil, 2008.
BAUMAN, Zygmunt. Estado de Crise. Trad. de Renato Aguiar. Rio de Janeiro: J. Zahar, 2016.
ZWEIG, Stefan. Brasil, país do futuro. Tradução de Odilon Galloti. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1981.
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