Cléder Aparecido Santa-Fé
A
Pandemia do Novo Coronavírus (Covid-19) já completou um ano em escala global.
Os primeiros casos, ocorridos em Wuhan na China, datam de 1º de dezembro de
2019.
Toda a inteligência científica está engajada no combate à crise sanitária instalada e as
vacinas entraram em fase final de desenvolvimento. Em 2021, provavelmente, teremos uma forma mais eficiente de imunização
coletiva contra essa moléstia.
Durante 2020, as medidas de isolamento social, uso de máscara e de higienização constante das mãos, com sabão e/ou álcool em gel, foram engendradas nas grandes mídias e pelos governos em todo mundo.
Ação
Pública desarticulada e ideologização do vírus.
No
caso brasileiro, todavia, não ocorreu uma ação integrada entre as esferas
governamentais (Federação, Estados e Municípios) e sim o estabelecimento de uma
grande disputa política, com a ideologização perversa da Covid-19.
O atual governo, que se diz combatente das diversas formas de ideologizações, deu início a uma narrativa de banalização dos efeitos e mortalidade da doença.
Ao
ideologizar o vírus e trazer a crise sanitária para uma disputa política, o
governo federal promoveu um boicote massivo a todas as medidas preventivas de
transmissão da doença (isolamento social, uso de máscara em espaços públicos e
privados, etc.).
Estamos
no último mês de 2020 e já foram registrados no Brasil, até a data desse
artigo, aproximadamente 6,6 milhões de infectados e 178 mil mortos. O vírus
ainda continua em circulação: até hoje, 09 de dezembro, tivemos uma média
semanal de aproximadamente 42 mil novos casos da doença e de 600 novas fatalidades.
Normalidade
Forjada
Em
contrapartida, a vida cotidiana aparenta ter voltado à normalidade. Os setores
produtivos e de serviços estão em pleno funcionamento.
Os setores do turismo e do entretenimento também estão voltando, aos poucos, às suas atividades. A grande mídia mudou a sua agenda informativa: a hashtag #fiqueemcasa foi substituída pelas hashtags #flexibilizacao, #voltaasaulaspresenciais,
e outras correlatas.
A
população relaxou nos protocolos de segurança e voltou a circular nas ruas, promover
encontros com amigos e familiares, etc.
Verifica-se, no país, a possibilidade de uma segunda onda de casos da doença ainda nesse ano. Em suma, a narrativa ideológica do governo federal sagrou-se vencedora
a médio prazo. O que explica tal fenômeno?
Polarização
e Tribalismo político
Outra
questão fundamental advém da ausência de uma cultura política qualificada no
cotidiano social brasileiro, focada na construção de políticas públicas de
longo alcance junto à sociedade civil e outros atores importantes do regime
democrático.
A
“cidadania” tupiniquim é medida pelo termômetro das redes sociais. Vivenciamos
uma disputa tribal e infecunda nesses espaços, oriunda de uma polarização que
não enxerga além do lulopetismo e do bolsonarismo.
Essa
visão restrita e maniqueísta da coisa pública acaba por favorecer ainda mais
uma cultura política pautada na figura do líder carismático, emprestando um
conceito sociológico de Max Weber para melhor exemplificar a minha perspectiva.
Desta
forma, a racionalidade ausenta-se do debate e acaba por prevalecer a barbárie
das paixões político-partidárias.
Portanto,
a constituição de uma nova cultura política pautada no ouvir e na construção
coletiva do dialogo urge.
Deixarei
uma composição de minha autoria e meu irmão, Coca Nietzschiano, sobre esse
tema, estabelecendo-se como uma crônica social do Brasil em 2020. Espero que
gostem.
Demência (Cléder-X/ Coca Santa Fé)
A demência do discurso
Desconsidera salvar vidas.
A demência das chamas
Carboniza o verde, os animais.
A demência opressora que
Se maquia de livre arbítrio.
A demência das opiniões que
Se prolifera em metadados.
A demência viral
Clamando por normalidade.
A demência é negligência,
Enojando o consenso,
Burlando as regras.
A demência usurpa o debate,
Transmuta a mentira em verdade.
A demência conserva em si
A sua própria incoerência.