sábado, 18 de junho de 2022

Devo Ficar ou Devo ir? Uma Utopia da Modernidade


Fabio Augusto da Silva Lima

Querida, você tem que me dizer
Devo ficar ou Devo ir?
Se você disser que é minha
Eu vou ficar até o fim dos tempos
Então você tem que me dizer
Devo ficar ou Devo ir?

Esse refrão clássico, da música Should I Stay Or Should I Go?, e de autoria da banda britânica The Clash, inspirou o catarinense Jesse Koz a dar uma volta no continente americano dirigindo seu fusca 78, levando seu fiel companheiro de viagem, o cão da raça Golden Retriever, batizado de Shurastey.

No entanto, no ultimo mês de maio, no dia 23, a história da dupla Jesse Koz e Shurastey chegou ao fim, após um acidente automobilístico fatal, no EUA, comovendo seus seguidores das redes sociais, que acompanhavam suas histórias e aventuras, de um homem jovem, cheio de sonhos, com seu cão doce, carismático e companheiro, que pretendiam chegar, depois de viajarem por 17 países pelo continente americano, no gelado estado do Alasca.

Eles já estavam na estrada há mais de cinco de anos, desde que Jesse Koz, brasileiro de Santa Catarina, que morava em Balneário Camboriú, resolveu deixar tudo para trás, seu emprego, família, amigos e pegar a estrada, em busca de algo que fizesse sentido para sua vida.

Um sonho, um fusca e um melhor amigo de quatro patas para acompanha-lo, Jesse Koz, idealizador do projeto “Shurastey or Shuraigow”, realizou a grande utopia do mundo moderno, ou seja, o espirito de liberdade, aventureiro, da fé em Deus e pé na estrada. Aliás, quem nunca de nós, pobres mortais, não desejou isso em algum momento da vida?

Mas do que nunca, Jesse entendia que estamos de passagem nessa vida, por isso ele quis realizar sua utopia, da última viagem, a viagem para o céu. E Jesse Koz realizou seu sonho. Desejou e realizou a utopia moderna, ou seja, pegar a estrada a dois, como um casamento que nunca vai se desfazer, uma idealização da nossa civilização moderna.   

Na visão do sonhador, a estrada é o seu próprio destino, pois nenhuma, nada, nenhum problema vai surgir que possa desfazer a amizade, o casamento, o laço a dois. A utopia não é somente a viagem, mas sim, a utopia da amizade eterna. O homem e o cachorro representavam o matrimonio ideal, o laço perfeito, pegando a estrada juntos, para nunca mais se desenlaçar.

Mas a questão da viagem de Jesse Koz e seu cão, é que chegou um momento em que eles já não podiam mais voltar, portanto, continuaram na estrada. Nesse sentido, a utopia não poderia acabar, pois ela é um fim em si mesma. Por isso, ela está associada ao ideal de felicidade, e o segredo de uma vida feliz, segundo Bob Moorehead é “não ter tudo o que você quer, mas amar tudo o que você tem!”. E foi exatamente isso que Jesse Koz fez ao lado do seu cão. Mas quis o destino que os dois se transformassem em estrelas do céu.

No que se refere a educação, nós, pedagogos, somos os guardadores de utopias, e aqueles que não tem utopia, não podem ser professores. Pois a educação depende de pessoas que tem ideologia, que acreditam no poder transformador do processo educativo. Não o que reprime, mas o que liberta.

Mas será que ainda é possível acreditarmos em utopias? Mesmo dentro de um sistema neoliberal, que instrumentaliza o ser humano cada vez mais, que nos faz reproduzir os mesmos desejos e padrões de consumo e estéticos? Como bem escreveu o poeta Eduardo Galeano, “Pra que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.” Jesse Koz e o seu cão, Shurastey, nos mostraram em sua maravilhosa caminhada, que sim, que não é só possível, mas necessário viver e realizar nossas utopias. Nós, sonhadores, agradecemos por manter viva as nossas utopias!

terça-feira, 15 de junho de 2021

Literatura Infantil: para além dos parâmetros da alfabetização

Fonte da imagem: lunetas.com.br

Giovanna Maria Recco Piccirilli¹

Atualmente a dimensão da Literatura Infantil é muito mais ampla e importante, proporcionando à criança maior desenvolvimento emocional, social e cognitivo indiscutível. Da mesma forma, através da leitura ela adquire uma postura crítico-reflexiva, extremamente relevante à sua formação cognitiva. Para além da alfabetização, a importância do contato com a literatura na infância se torna crucial quando a questão é ampliar o vocabulário, trabalhar sentimentos e alfabetizar — objetivos geralmente ligados à leitura de textos literários na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, de tal forma que a inserção da literatura no processo de alfabetização da criança passa a estimular a aprendizagem através de novas formas.

Na BNCC, o ensino de crianças pequenas é baseado em campos de experiências. Até os seis anos de idade, o ensino de literatura é pautado na Literatura Infantil, que desenvolve o gosto pela leitura, estimulando a imaginação e ampliando o conhecimento de mundo do estudante. O/a professor/a pode explorar a Literatura Infantil de diferentes formas: as histórias podem ser trocadas e contadas entre as crianças, encenadas em peças teatrais, transformadas em desenhos e pinturas ou, até mesmo, em outros textos. A construção de um espaço de leitura dentro das salas de aula possibilita aproximar o pré-leitor da literatura como fonte de prazer, permitindo o desenvolvimento do imaginário das crianças através da leitura de imagens, das possibilidades e descobertas oferecidas pelo objeto livro como suporte lúdico e atrativo.

Isso, além de tornar a Literatura Infantil parte da vida dos pequenos, estimula a criatividade, a empatia, o raciocínio, o respeito, a imaginação, o desenvolvimento cognitivo e da linguagem, uma visão de mundo mais ampliada, entre outros vários benefícios. Ela é a responsável por estimular a criatividade, a imaginação e por auxiliar na construção de diversos conhecimentos. Por isso, é fundamental que a escola reconheça sua relevância para o desenvolvimento dos estudantes.

Por fim, a contação de histórias na Educação Infantil desperta a curiosidade, estimula a imaginação, desenvolve a autonomia e o pensamento, proporciona vivenciar diversas emoções como medo e angústias, ajudando a criança a resolver seus conflitos emocionais próprios, aliviando sobrecargas emocionais.

¹Licencianda em Pedagogia pela Universidade Federal de São Carlos e em Gestão de Recursos Humanos pelo Centro Universitário de Maringá.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

A normalização da Pandemia e a ideologização do Covid-19.

Charge 1 - Site Hoje em Dia

Cléder Aparecido Santa-Fé

A Pandemia do Novo Coronavírus (Covid-19) já completou um ano em escala global. Os primeiros casos, ocorridos em Wuhan na China, datam de 1º de dezembro de 2019.

Toda a inteligência científica está engajada no combate à crise sanitária instalada e as vacinas entraram em fase final de desenvolvimento.  Em 2021, provavelmente, teremos uma forma mais eficiente de imunização coletiva contra essa moléstia.

Durante 2020, as medidas de isolamento social, uso de máscara e de higienização constante das mãos, com sabão e/ou álcool em gel, foram engendradas nas grandes mídias e pelos governos em todo mundo.

Ação Pública desarticulada e ideologização do vírus.

Charge 2 - Site Dom Total

No caso brasileiro, todavia, não ocorreu uma ação integrada entre as esferas governamentais (Federação, Estados e Municípios) e sim o estabelecimento de uma grande disputa política, com a ideologização perversa da Covid-19.

O atual governo, que se diz combatente das diversas formas de ideologizações, deu início a uma narrativa de banalização dos efeitos e mortalidade da doença. 

Ao ideologizar o vírus e trazer a crise sanitária para uma disputa política, o governo federal promoveu um boicote massivo a todas as medidas preventivas de transmissão da doença (isolamento social, uso de máscara em espaços públicos e privados, etc.).

Estamos no último mês de 2020 e já foram registrados no Brasil, até a data desse artigo, aproximadamente 6,6 milhões de infectados e 178 mil mortos. O vírus ainda continua em circulação: até hoje, 09 de dezembro, tivemos uma média semanal de aproximadamente 42 mil novos casos da doença e de 600 novas fatalidades.

Normalidade Forjada

Charge 3 - Site ND+

Em contrapartida, a vida cotidiana aparenta ter voltado à normalidade. Os setores produtivos e de serviços estão em pleno funcionamento.

Os setores do turismo e do entretenimento também estão voltando, aos poucos, às suas atividades. A grande mídia mudou a sua agenda informativa: a hashtag #fiqueemcasa foi substituída pelas hashtags #flexibilizacao, #voltaasaulaspresenciais, e outras correlatas.

A população relaxou nos protocolos de segurança e voltou a circular nas ruas, promover encontros com amigos e familiares, etc.

Verifica-se, no país, a possibilidade de uma segunda onda de casos da doença ainda nesse ano.  Em suma, a narrativa ideológica do governo federal sagrou-se vencedora a médio prazo. O que explica tal fenômeno?

Polarização e Tribalismo político

Charge 4 - Site Zero Hora 

        É claro que não há uma resposta única, porém há alguns diagnósticos presentes no embate político das últimas décadas. A descrença na ciência e na educação como instituições basilares do conhecimento é um, dos principais fatores, que nos auxilia a compreender esse fenômeno.

Outra questão fundamental advém da ausência de uma cultura política qualificada no cotidiano social brasileiro, focada na construção de políticas públicas de longo alcance junto à sociedade civil e outros atores importantes do regime democrático.

A “cidadania” tupiniquim é medida pelo termômetro das redes sociais. Vivenciamos uma disputa tribal e infecunda nesses espaços, oriunda de uma polarização que não enxerga além do lulopetismo e do bolsonarismo.

Essa visão restrita e maniqueísta da coisa pública acaba por favorecer ainda mais uma cultura política pautada na figura do líder carismático, emprestando um conceito sociológico de  Max Weber para melhor exemplificar a minha perspectiva.

Desta forma, a racionalidade ausenta-se do debate e acaba por prevalecer a barbárie das paixões político-partidárias.

Portanto, a constituição de uma nova cultura política pautada no ouvir e na construção coletiva do dialogo urge.

Deixarei uma composição de minha autoria e meu irmão, Coca Nietzschiano, sobre esse tema, estabelecendo-se como uma crônica social do Brasil em 2020. Espero que gostem.


Demência (Cléder-X/ Coca Santa Fé)

A demência do discurso
Desconsidera salvar vidas.
A demência das chamas
Carboniza o verde, os animais.

A demência opressora que
Se maquia de livre arbítrio.
A demência das opiniões que
Se prolifera em metadados.

A demência viral
Clamando por normalidade.
A demência é negligência,
Enojando o consenso,
Burlando as regras.

A demência usurpa o debate,
Transmuta a mentira em verdade.
A demência conserva em si
A sua própria incoerência.