segunda-feira, 24 de junho de 2013

O povo acordou?



 Fabio Augusto da Silva Lima
Contato: fabioasl@gmail.com

Começou a Copa das Confederações no Brasil. Acompanhando a cobertura da mídia em geral e analisando os fatos recentes acerca das manifestações em várias capitais brasileiras contra o aumento das passagens do transporte urbano, mas que sabemos não se resume a isso, a verdade é que vai muito além, me faz lembrar em muito a conjuntura da Ditadura Militar instituída no país em 1964 e que terminou oficialmente em 1985 por meio das diretas já e a redemocratização do país.

Tal comparação não me parece exagero, pois as circunstancias atuais são idênticas, ou seja, insatisfação política e social em meio a repressões em meio a um evento mundial do esporte mais popular do país. Nesse sentido, o Governo brasileiro é o grande protagonista mais uma vez. Mesmo vivendo num suposto Estado Democrático de Direito, os últimos fatos provam o contrario. 


Primeiro porque, mais uma vez, o Futebol é usado como instrumento de alienação do povo brasileiro. Basta lembrarmos a campanha do Governo Brasileiro na Copa de 70, com a ajuda da publicidade e propaganda do Estado, usando da paixão pelo esporte e do carisma da seleção para esconder a repressão do regime, bem como para instalar um clima de harmonia e aceitação na população, reproduzindo assim a ordem vigente. 


A única diferença é que esse evento acontece aqui e que a próxima Copa do Mundo será no Brasil, o que na realidade gera mais um agravante, já que abre a possibilidade de gasto excessivo e de desperdício do dinheiro público, principalmente para construção de estádios, muitos que serão usados somente para Copa e que depois se tornaram “elefantes brancos”, ou seja, sem nenhuma utilidade. 


Na verdade, o evento só favorece alguns poucos privilegiados, políticos e empresários, estes sim os verdadeiros beneficiados. Não é à toa, que um dos lemas das manifestações recentes, inclusive há um grupo político organizado nesse sentido que questiona “Copa para quem?”. 


Segundo porque o Governo, nesse caso, do Estado de São Paulo, tal como fez durante a Ditadura Militar, usa da policia para reprimir manifestações políticas legitimas, porque sabemos que não se trata só de R$0,20 centavos, na verdade, essas manifestações demonstram a insatisfação da maioria da população, cansada de tanto descaso, desrespeito e exploração de uma política que só serve e governa para as elites. Por sua vez, o governo usa da violência excessiva, de maneira truculenta e autoritária para manter as coisas como estão. As imagens falam por si.


Ainda depois vem o governador Geraldo Alckmin, que por sinal, nem estava no Brasil durante o auge das manifestações, dizer que a policia agiu de forma correta, já que se tratava de alguns vândalos que, apoiados por partidos radicais de esquerda, querem desestabilizar seu governo, já que se aproximam as eleições. Nesse sentido, era preciso garantir a ordem, o patrimônio, público e privado e o direito de ir e vir das pessoas.


Bom, diante desse discurso, parece piada, por exemplo, dizer em direito de ir e vir das pessoas numa cidade que tem um dos piores índices de mobilidade urbana, com um sistema de transporte urbano (ônibus, metros e trens) ruim, caro e insuficiente para atender a grande maioria da população que depende de transporte público.


Sem contar que a policia paulista é uma das mais violentas do mundo, que inclusive participou ativamente durante o período ditatorial no país, com perseguições, torturas e mortes de pessoas e grupos que eram contrários ao regime militar, apresentando um currículo de execuções de dar inveja a qualquer exercito do planeta. 


No mais, grande parte da imprensa brasileira, principalmente os grandes grupos, como o Globo, oportunista e sensacionalista como sempre, faz o jogo do gato e rato, agindo como um verdadeiro abutre, usando-se das imagens da violência da maneira que lhe convém, mas não para denunciar o abuso policial ou para discutir as pautas de reivindicações dos manifestantes, mas somente para aumentar sua audiência. E não é só. Como tem ligações escusas com os governos, já que possui concessões e recebe muitas verbas públicas, vendem a imagem dos manifestantes como baderneiros, que só querem agitar, atrapalhar o transito e destruir o patrimônio da cidade.
Além disso, promovem em sua programação um verdadeiro pão e circo, aproveitando da Copa das Confederações no Brasil para propagar um patriotismo e ufanismo idiota, tudo para anestesiar a população e tirar o foco dos grandes problemas estruturais que o país enfrenta. 


No entanto, há algo novo nessa conjuntura, que embora os governantes não queiram reconhecer, tem um poder de mobilização incrível. Falo da Internet, dos Blogs, das Redes Sociais, que possibilitam, por exemplo, a liberdade de expressão; a denuncia contra abusos e corrupção; a discussão dos problemas estruturais, tanto a nível local quanto mundial; a articulação de pessoas em várias partes do país e do mundo, enfim, um poder político que vai muito além dos velhos e ultrapassados partidos e sindicatos. Outras iniciativas pelo mundo já demonstraram a força que essas ferramentas têm, como nos movimentos da Primavera Árabe em alguns países árabes, dos Indignados na Espanha e do Ocupe Wall Street em Nova York.


Nesse sentido, abre-se a possibilidade nesse momento histórico, de uma nova forma de se propor e fazer política. Para além dos tradicionalismos de esquerda x direita, agora não temos um núcleo, um centralizador das decisões, mas somente alguém que tome a iniciativa, que se identifique com um determinado grupo e com as sua reivindicações, enfim, alguém que curte e compartilha um mundo diferente, melhor, mais justo, democrático e livre.
Portanto, parafraseando Marx, as condições (materiais, políticas, econômicas e sociais) na atual conjuntura estão dadas, basta a nós (tanto indivíduos como grupos e movimentos independentes) modificá-las. Afinal, a mudança mais do que necessária, é urgente. O povo acordou!

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