Fabio
Augusto da Silva Lima
Contato: fabioasl@gmail.com
O grande filósofo grego Epicuro,
defende na obra Carta sobre a felicidade,
que o prazer é o inicio e o fim de uma vida feliz. No entanto, também alertava para a necessidade do
cuidado com a busca indiscriminada pelo prazer, pois isso, ao invés de trazer satisfação,
teria o efeito contrário, ou seja, resultaria em dor e sofrimento.
Já no século XVIII, os
filósofos do iluminismo francês defendem a ideia da felicidade enquanto o
objetivo supremo de cada individuo. Para tanto, esse ideal deve ser alcançado
por meio da conquista da liberdade, necessária tanto para o desenvolvimento das
capacidades físicas e intelectuais do individuo quanto para sua atuação na vida
política.
Na nossa sociedade
contemporânea, o conceito de felicidade mudou radicalmente. Na verdade, nos
dias de hoje, a felicidade está associada ao progresso pessoal, profissional e,
sobretudo material. De fato, defende-se que esse progresso seria necessário
para a conquista do prazer, da satisfação e a realização do individuo.
A questão que se coloca
é que essa busca, dentro da lógica capitalista, se dá pelo viés mercadológico,
ou seja, pela via do consumo. Nesse sentido, numa sociedade de mercado, tudo se
torna mercadoria. Na verdade, vivemos num mundo com apelos mercadológicos constantes,
onde até os prazeres são mercantilizados.
Portanto, no mundo
liquido moderno, para usar a expressão do sociólogo Zygmunt Baumann, a
felicidade mais do que um ideal, se torna um produto. Felicidade materializada.
Dessa forma, para alcançá-la, é preciso consumir cada vez mais, de todas as
formas possíveis, inclusive o próprio consumo de imagens. Veja por exemplo os
shoppings Center, que representam o grande palco do fetichismo da mercadoria.
Desse modo, como
descreve o historiador brasileiro Jacob Gorender, a sociedade capitalista
também se apresenta como sociedade do espetáculo. Ou seja, importa mais do que
tudo a imagem, a aparência, a exibição. A ostentação do consumo vale mais que o
próprio consumo. A aparência se impõe a existência. Parecer é mais importante
do que ser.
Além disso, a ansiedade,
a impulsividade, o imediatismo e o comportamento de risco, por exemplo,
passaram a ser fatos corriqueiros na vida das pessoas. Tudo se torna efêmero e
transitório. Basta clicar um botão e estamos conectados ou desconectados, tudo
vai depender do tamanho do nosso tédio.
O problema é que esse estilo de vida tem
levado a uma insatisfação e o adoecimento cada vez maior dos indivíduos, pois
nunca se está satisfeito, é preciso sempre mais. Com isso, sentimentos como impotência,
tristeza e solidão têm sido cada vez mais constantes. Não por acaso, segundo
previsões da Organização Mundial da Saúde, a depressão será a doença do século
XXI.
Além dos males que o
atual contexto acarreta no plano individual, há também um prejuízo no plano
coletivo. Primeiro porque esse progresso material é conquistado através da
destruição do Meio ambiente. Para observar isso, não é preciso muito, é só
olhar o nosso entorno e ver a cidade com seus prédios e carrões, com um
crescimento sem medidas e desenfreado por um lado e o desmatamento e a poluição
do outro. Segundo porque impera no nosso mundo o individualismo, a segregação e
a competitividade em detrimento da participação política, da solidariedade e da
coletividade entre as pessoas.
No entanto, gostaria de
enfatizar que apesar dos pesares, nem tudo está perdido. É inegável que a
sociedade avançou em muitas áreas, a tecnologia, por exemplo, contribui muito
para a transformação dos meios de comunicação, permitindo uma verdadeira
revolução digital e novas possibilidades de interação entre os indivíduos. O
problema é que há ainda uma privatização sobre esses meios, não se enganem, são
as grandes corporações que controlam, operam e monopolizam tudo o que é
produzido.
Sendo assim, diante do
que foi exposto, fica a pergunta: será possível superar essa realidade e
resgatar o conceito original de felicidade? Acredito que sim, no entanto, é preciso
construir alternativas, de modos de viver diferente. Para tanto, é necessário urgentemente
romper com esse estilo de vida consumista, com a promoção de valores humanos universais
de igualdade entre as pessoas e a garantia dos direitos básicos, como saúde,
alimentação, educação, moradia e lazer, entre outros, além da preservação dos
recursos naturais essências para nossa sobrevivência.
Desse modo, para além de
uma lei proposta pelo senado brasileiro que institui o direito a felicidade, um
bom começo seria a mudança da nossa postura contra essa lógica perversa, pois
como defende o cientista político Jonh Holoway “nossa força depende da
capacidade de dizermos não”.
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