Fábio Augusto da Silva Lima
“Enquanto os homens exercem seus podres
poderes
Motos e fuscas avançam os sinais vermelhos
E perdem os verdes
Somos uns boçais”
Podres Poderes - Caetano Veloso
Na TV, ao final de algum produto de ficção,
diz-se: “Este programa é uma produção
independente. Todo o conteúdo veiculado é de inteira responsabilidade de seus
produtores”. Se essa é uma prerrogativa, quem seria o responsável pela
propaganda mentirosa de governo do “presidente” Michel Temer? Evidentemente que
o próprio participou ativamente, no entanto, a propaganda é realizada por um
marqueteiro e financiada pelo seu partido, o PMDB.
Não por acaso, essa lavagem cerebral
coincide na mesma semana em que o governo lançou o programa “Avançar” que tem
como objetivo retomar as obras e fazer novos investimentos pelo país. Seria uma
espécie de um novo PAC, repaginado, mas igual na essência. Durante a
apresentação do programa, Temer disse que muitos ainda se surpreenderão com seu
governo.
Não dúvido. Muitos, como eu, estão
surpreendidos, na verdade, com a cara de pau de um governo, cuja popularidade é
de apenas 3%, segundo pesquisa feita pela Confederação Nacional da Indústria –
CNI. Mas como dirira Joseph Gobbels, marqueteiro do Nazismo “uma mentira
repetida mil vezes torna-se verdade”.
Além disso, é importante lembrar que o
presidente foi salvo há algumas semanas atrás pela Câmara dos Deputados, que
derrubou as duas denúncias da PGR contra ele, acusado de corrupção, organização
criminosa e obstrução de justiça. Mas essa salvação de Temer veio após muito
e$forço do governo, ao que tudo indica, através da oferta de cargos e liberação
de verbas e emendas aos parlamentares por meio de encontros fora da agenda e
jantares nada republicanos.
Mas voltando ao inicio, na sua propaganda
veiculada na TV e na Internet, o PMDB valoriza os avanços do Brasil nos últimos
meses, como a melhora na economia, redução da inflação, dos juros, do corte de
gastos, das reformas aprovadas, como a PEC do corte de gastos públicos e a
reforma trabalhista.
Dentre as propagandas veiculadas, o partido
também diz que o presidente sofre perseguição do ex Procurador Geral da
Republica, Rodrigo Janot, e de que foi “alvo
de uma trama para tira-lo do poder”. Ainda
na propaganda, Temer diz que a “trama foi
desmontada” e que “a verdade é
libertadora e não só nos livra da injustiça como nos dá mais força, vontade e
coragem de seguir em frente. E é isso que vamos fazer com muita convicção,
porque agora é avançar”.
O PMDB só se “esquece” de dizer que o presidente terá
de responder pelas graves acusações contra ele após o fim do seu mandato, em
2019. Quando isso acontecer, já não terá mais o foro privilegiado e nem a chave
do cofre para liberar cargos, emendas e verbas a parlamentares.
Além disso, também se
esquece de explicar sobre a mala de R$500 mil reais entregue a um deputado do
seu partido, Rodrigo Rocha Loures e dos R$ 52 milhões de reais encontrados no
apartamento do deputado federal Geddel Viera Lima, amigo do presidente, muito
menos do deputado Eduardo Cunha, responsável pela abertura do processo de
impeachment na Câmara dos Deputados, preso atualmente em Curitiba, condenado
por corrupção e lavagem de dinheiro, além da quadrilha formada pelo partido
para “estancar” a sangria da Operação
Lava Jato feita pela Policia Federal.
Mas não nos enganemos,
contrariando essa propaganda mentirosa, custeada com dinheiro público, a ponte
para o futuro lançada como slogan por esse governo, ao invés de fazer “avançar”
o país, está nos levando para um passado de retrocesso. Não é preciso muito
para ver, basta dar uma volta pelas ruas da cidade e perceber a quantidade
pessoas desempregadas, sem moradia, pedindo esmola nos sinais, e muitas
passando fome. Por sinal, o país voltou a figurar no mapa da fome mundial.
Diante disso, como não se lembrar recentemente do garoto de 8 anos de idade, em
Brasília, que desmaiou ao chegar na escola, com fome, porque não tinha comida em casa para se
alimentar.
Como miséria pouca é
bobagem, o presidente “reformista” quer fazer a população engolir a reforma da
previdência a qualquer custo, afinal, ele precisa entregar o pacote de reformas
completo, como foi prometido ao mercado e aos que financiaram o golpe que tirou
a ex-presidente Dilma Rousseff do poder em 2016.
Para convencer a população
da necessidade da reforma, o governo vem veiculando uma campanha publicitária, colocando
os servidores públicos como os grandes vilões da crise politica, da recessão e
do “déficit da Previdência”. Na verdade, tenta convencer a população que os
servidores públicos são privilegiados, pois segundo a propaganda, recebem muito
e se aposentam cedo. O próprio relator da Reforma da Previdência na Câmara dos
Deputados, Arthur Maia, disse que a reforma vem para acabar com privilégios e proporcionar
igualdade.
Veja a
ironia, agora a Aposentadoria e a Seguridade Social, que são direitos fundamentais
garantidos pela Constituição, se tornam na fala do caro deputado, privilégios
da categoria dos servidores. Ora, o que dizer então de um deputado que custa
aos brasileiros cerca de 2 milhões de reais por ano. Isso mesmo, o salário de
cada parlamentar, com verbas extras, chega a R$ 83 mil. Incluindo-se os gastos
com comissionados de gabinete, um mandato custa R$ 180 mil por mês ao
contribuinte.
Em qualquer
democracia séria do mundo ocidental, esses gastos com parlamentares seriam
vistos como um completo absurdo. Mas no Brasil, os fatos são totalmente
distorcidos, os verdadeiros “privilegiados” é que estabelece quem são os
privilegiados, repetindo todos os dias na propaganda, a mesma mentira, querendo
convencer a opinião pública a acreditar nessa farsa de reforma da previdência.
O maior desastre
é acreditar que vivemos em um país democrático, em que instituições funcionam. Balela. Na verdade, segundo o jurista
brasileiro Rubens Casara, vivemos a Pós-democracia, ou seja, o esgotamento do
modelo politico tradicional, e a instalação de uma ditadura do modelo neoliberal
de governança, em que os governantes representam não mais os interesses da
população, mas sim, do Mercado.
Quer dizer, teoricamente, as instituições
políticas oficiais, aparentemente funcionam bem, mas na pratica, não temos esse
funcionamento, elas apenas funcionam para favorecer aqueles que estão no poder.
Nossa democracia é um sistema de
aparência, porque os direitos sociais não estão sendo efetivados, na verdade,
estão sendo cada vez mais retirados, extintos.
E o mais grave, a população não está participando do debate e das
decisões políticas. Tudo é imposto, de cima pra baixo, sem discussão.
Diante desse cenário sombrio, o que esperar
do futuro do país? A filosofa russo-americana Ayn Rand, em outro contexto, há
quase cem anos atrás, descreveu uma previsão pessimista, que vem ao encontro da
nossa realidade: “Quando você perceber que, para produzir, precisa obter a autorização
de quem não produz nada; quando comprovar que o dinheiro flui para quem negocia
não com bens, mas com favores; quando perceber que muitos ficam ricos pelo
suborno e por influência, mais que pelo trabalho, e que as leis não nos
protegem deles, mas, pelo contrário, são eles que estão protegidos de você;
quando perceber que a corrupção é recompensada, e a honestidade se converte em
auto-sacrifício; então poderá afirmar, sem temor de errar, que sua sociedade
está condenada”. Podres Poderes.