sábado, 19 de setembro de 2020

E a formação inicial de professores vai bem?

Foto 1 - A Voz da Serra

Ana Paula Silveira

2020, o ano que ficará marcado na vida de todos, como sendo um ano de novos desafios e de extremo negacionismo frente ao cenário pandêmico, que por sua vez intensificou o uso das mídias digitais ao desenvolvimento cognitivo desde a educação infantil a pós-graduação. Porém o uso ininterrupto das mídias digitais na educação evidenciou as lacunas sociais. 

Para muitos indivíduos o acesso à educação, enquanto direito fundamental, não está ocorrendo de modo qualitativo, usufruir desse direito, por vários motivos, invalida o que fora cunhado na Constituição de 1988, pois as ausências de computadores, celulares, internet de qualidades entre outros motivos não permite que haja a garantia da educação igualitária e de qualidade a todos.

Temos que reconhecer que os cursos on-line, seminários, congressos estão proporcionando encontros memoráveis entre educadores de escolas públicas e pesquisadores das grandes universidades brasileiras, mas ressalto que: será que todos estão dispostos a ouvir, interiorizar e agir, de modo crítico, a partir das discussões, ressaltadas nessas aulas, palestras, lives e etc.? Será que os professores da educação básica, tem a possibilidade de modificar suas práticas docentes e transformar a educação? Será que os professores da Educação Básica são apenas treinados para reproduzir uma educação bancária? Como estão nossos cursos de licenciaturas?

Vou mais além, será que os professores não estão sendo usados por instancias maiores, para atestar a inabilidade da educação pública de qualidade, para então assistirmos a privatização da educação em todas as modalidades e deixar a educação, de ser um direito fundamental.

Na obra Pedagogia do Oprimido, escrita por Paulo Freire, na década de 1980, apresentou a pedagogia da práxis, que é a possibilidade de professores e estudantes refletirem e agirem criticamente. Nesse sentido os professores foram convidados a desenvolver práticas docentes que valorizem as experiências, os conhecimentos prévios dos estudantes, para romper com os ciclos de opressão que está empregando na nossa educação.

O que precisamos para romper com os ciclos de opressão? Precisamos de cursos de licenciaturas de excelência, cursos que oferecerão uma formação crítica, que ensinem aos futuros professores olhar e reconhecer-se no Outro. 

Além disso nesses cursos ditos aqui de excelência, deve-se ensinar que todos fazemos parte de uma sociedade, pois nós humanos somos seres com suas especificidades, porém fazemos partes de uma coletividade, que precisa unir-se para reconhecer suas liberdades e lutarmos pela permanência dos nossos direitos fundamentais que com o passar dos anos estão sendo ceifados.

Então a liberdade frente ao ciclo de opressão aconteceria em comunhão como disse Paulo Freire: “Ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho: os homens se libertam em comunhão”, para isso todos os profissionais da educação, familiares e sociedade civil precisam estar engajados na luta pela liberdade.  

Os cursos de licenciaturas precisam mostrar aos futuros professores que o ciclo de opressão precisa ser rompido e isso não acontecerá de modo isolado, os futuros professores e profissionais da educação precisam compreender que a transformação acontecerá com uma pedagogia da práxis, bem desenvolvida, mas para isso esses profissionais precisam do apoio social, infelizmente aos professores recaem a accountability, são cobrados, precisam fornecer os melhores desempenhos pedagógicos. 

Os professores precisam ser reconhecidos como heróis em meio ao caos, estão com nós a possibilidade de transformação quando oferecemos aos estudantes ensinamentos críticos, os professores precisam ser valorizados por todos. Somente com a pedagogia da práxis nos cursos de licenciatura, somente com a pedagogia da práxis das escolas públicas, somente com a valorização dos profissionais da educação, somente com a comunhão frente a luta de rompimento do ciclo de opressão, teremos o direito fundamental à educação de qualidade a todos os indivíduos. 

Pode até parecer utópico frente ao nosso cenário atual, mas se os professores apenas reproduzir esse sistema opressor e virar a página da apostila para continuar as atividades, sem complexidades, sem criticidade, sem inferências, vamos terminar essa apostila e encerrar a nossa história.

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