Giovanna Maria Recco Piccirilli
Partindo da concepção de que nossa história foi construída dentro de características autoritaristas e inerente à autocracia. Uma história autoritária com hiatos de democracia que, infelizmente foi constituída em cima do fascismo, racismo e necrofascismo. O fascismo é um fenômeno inerente ao capitalismo e não deve ser confundido com o autoritarismo – um regime de força que sempre existiu em diferentes sociedades. Na obra “O que é fascismo? E outros ensaios”, Orwell fala de política, sociedade, hipocrisia, cultura, literatura, filmes, moral e procura teorizar sobre alguns rumos que o mundo tomaria após a II Guerra Mundial. Apesar do nome da obra, o livro não trata exclusivamente, ou tem um foco maior, nos movimentos fascistas da Europa do século XX. Os textos escolhidos, em sua maior parte, falam mais do fenômeno do totalitarismo, do comunismo, dos movimentos revolucionários e seus males, do que tem um foco direto no fascismo. De fato, apesar do título, não existe um único artigo presente na obra que defina o que é o fascismo. O autor se preocupa, muito mais, com o problema do totalitarismo e de como a ideologia política pode cegar ou nublar a moralidade, sanidade e a visão de mundo de um Homem.
Ao longo do século XX junto à crise do capitalismo (1929), surge este ato destrutivo que foi acionado durante a crise e à subversão da ordem capitalista; não é simplesmente um governo autoritário, mas sim um estado de terror do capital que aparece quando há ameaça de subversão, ou seja, revolucionária. O impacto da crise em meados de 1920 a 1930 disgregou o sistema capitalista e nos trouxe a necessidade de instalar regimes de terror como o fascismo. Foi nesta conjuntura que se deu a 1ª Revolução Socialista bem sucedida, denominada esta Revolução Russa de 1917 conseguindo manter o poder depois de construir um estado socialista.
Vivemos hoje um descrédito à democracia e à liberdade. Este cesarismo é caracterizado pelo regime de controle de massas – se tiver um líder para pensar a vida em sociedade e a nação, seria melhor, expondo assim que a democracia não é válida. Ele não nasce com a burguesia, mas sim com as classes médias que, volatizadas, caem o padrão de vida e procuram um padrão de força para se reerguer, com a necessidade contra revolucionária. Existe outra crítica, mas dessa vez sobre um filme antifascista. O Grande Ditador, estrelando Charles Chaplin, é analisado em suas virtudes e defeitos, com acentuação no fato de que a trama da película se trata, no fim, do contraste entre um homem comum com o mundo dos professores, dos intelectuais – estes que podem, com muita facilidade, defender qualquer regime totalitário: algo comum em qualquer faculdade de humanas ontem e hoje. Para Orwell, o filme pode mostrar a cisão do mundo político e fascista para com a população mais humilde, que sabe o que é certo e errado.
Será que o fascismo se manifesta na periferia do capitalismo da mesma forma que nos países centrais? Nestes países, vemos peculiaridades de ultranacionalismo. A ditadura brasileira foi fascista porque seguia o regime de alavancar o terror do capital para se evitar uma transformação antirrevolucionária. Historicamente, a escola tem um legado vindo desde a Revolução Francesa – do estado nacional burguês e a valorização das ideias iluministas. Na Alemanha Nazista e na Itália Nazista as crianças eram entregues desde cedo ao Estado, no sentido da construção de uma consciência fascista ainda jovem.
A escola é um espaço de libertação e produto de expansão dos direitos, deve ser entendida como possibilidade concreta de que essa expansão se conclui a partir da democratização e melhoria da instituição. Deve ser cuidada e defendida. Não é casual que o fascismo histórico seja direcionado seu ponto alvo à escola. Ela para o fascista é doutrinação e acusada de doutrinar para o lado errado, o que Hitler fez, o que Mussolini fez e o que outros fascistas querem. Além de ser um espaço de socializar conhecimentos e levá-los ao questionamento (ser crítico) este é o grande problema para a mente fascista.
A Escola Sem Partido não era a doutrinação, mas sim porque a escola formava pessoas questionadoras. O espaço escolar é lugar de disputa. Paulo Freire apontou uma crítica de emancipação a partir do ato político da práxis revolucionária. A Política Educacional no período do fascismo foi constituída por vários outros órgãos estatais a respeito do conteúdo das aulas e dos livros didáticos aceitáveis para uso em escolas primárias e secundárias do país como o Ministro da Instrução Pública do Reino da Itália entre 1922 e 1925, Giovanni Gentile e o Ministério da Educação liderado por Bernhard Rust, ambos de controle para com o professor. Os governos temem aos professores porque têm medo de que façam de seus alunos seres críticos e uma pessoa que pensa, pode prejudicar.
Entretanto, ressalvo que a escola não cabe na gramática do fascismo e do nazismo, e o professor deve de certa forma ser encurralado, baseando-se na recuperação onde a dimensão do conhecimento desapareça. As grandes vítimas do fascismo são aquelas que têm conhecimento, portanto os professores são os primeiros a serem atacados. Na Alemanha, os educadores foram exilados e mandados para campos de concentração e essa luta antifascista é a luta pela liberdade, contra o machismo, sexismo, capital e toda autoridade.
Nenhum governo combate o fascismo até o final porque quando se sentir coagido, recorrerá ao fascismo ou a meios fascistas. Não há uma onda fascista que busca se instalar no Brasil e no mundo, em grande medida, essa ameaça existe e já está instalada às bênçãos da democracia e da livre competição. Chegamos ao nível de não distinção de desejos de morte e aos dispositivos de extermínio.
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