segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Polarização, desenvolvimento e o Brasil que queremos


Clóvis Santa Fé Junior*

Penso que é preciso apurar mais a análise, assim poderemos ver direito neste denso nevoeiro ideológico "vermelho" e "azul" que se abateu sobre a sociedade brasileira. Primeiro ponto é compreender que PT e PSDB são de extração social-democrata. A origem de ambos está na Social democracia europeia, que tem como signo não a revolução, mas a ideia de reforma do Estado. Neste sentido, o PSDB tentou fazê-lo através de uma reforma gerencial (Estado Mínimo) e o PT nada propôs, pois manteve todos os liames de um Estado Patrimonialista. 

A prova disso são suas alianças à direita (Sarney, Maluf, Collor, Marco Feliciano, entre outros). Ambos, portanto, não conseguiram reformar o Estado que continua com as velhas elites e oligarquias de sempre. Portanto, até aqui 0 a 0, "e esse jogo não pode ser 1 a 1" como diz a canção.

No que diz respeito a benefícios sociais temos que ter a humildade de reconhecer que o Plano Real (criado durante o governo Itamar Franco e depois conduzido pelo governo FHC) trouxe sim grandes benefícios sociais ao colocar sob controle o "Dragão da Inflação". Eu vivi as décadas de 1970, 1980 e 1990 para saber a diferença estrutural que significou isso. E, detalhe, sendo petista. O problema da inflação era tão grave que pessoas se suicidaram quando Collor confiscou a poupança de toda população dizendo ser uma ação necessária para se controlar a inflação. Também temos de ter humildade e reconhecer que a Bolsa Família também trouxe grandes benefícios sociais, pois incluiu mais de trinta milhões de brasileiros que estavam abaixo da linha da pobreza. 

É um mérito verdadeiro do PT, embora a ideia do programa tenha vindo do governador Marconi Perillo (PSDB), que propôs para o presidente Lula a unificação dos doze programas sociais do PSDB (o Bolsa-Alimentação, PETI [Programa de Erradicação do Trabalho Infantil], o Bolsa-Escola, o Brasil Jovem e o Vale-Gás) num "cadastro único" (que já estava em construção no final da gestão FHC, conforme matéria da Folha na época e que pode ser lida nesse link. Ponto para o Lula, que ouviu Perillo e abandonou o "Fome Zero" - o programa social original do PT. Mas sendo justo, aqui também temos o empate 1 a 1 (Plano Real-PSDB/Bolsa Família-PT), "e esse jogo não pode ser 1 a 1" como continua dizendo a canção.

Quando se trabalha com o conceito de hegemonia em Gramsci, faz-se necessário tomar cuidado e lembrar que Gramsci o estabelece como conceito desde que opere por meio da chamada "grande política", por ser esta a que permite a sociedade civil se organizar de forma progressista. Infelizmente, não foi isso o que vi nos doze anos de PT até agora. Pela tal "governabilidade" - e seguindo o "irmão" PSDB que se aliou ao PFL (depois Democratas) - o Partido dos Trabalhadores se rendeu à "pequena política" (a seara dos interesses mais vis) que manteve o "campo hegemônico" das elites oligárquica e empresarial do país, ou seja, não tornou o povo organizado e protagonista, só o adestrou através dos programas sociais. O que para mim é gravíssimo, pois cria o "imobilismo" que tanto criticávamos e debatíamos em nosso tempo de universidade, no qual nossos professores revelavam a incapacidade (ou seria impedimento?!?) do povo de participar da gestão pública uma vez que todas as transformações sociais de relevo se deram/dão sempre "pelo alto" (de cima para baixo). 

Aí é impossível não se lembrar de Weber, que diz: "em política nem todo o bem faz o bem e nem todo o mal faz o mal, às vezes o bem faz o mal e o mal faz o bem". Neste sentido, a falta de política com "P maiúsculo" em todos esses anos só contribuiu/contribui para a ascensão das "forças conservadoras" mais "reacionárias".

De certa forma é o que estamos assistindo como resultado dessa polarização esquizoide PT X PSDB. Vejo que com relação às demandas populares, cada um do seu jeito, ambos atenderam o que era necessário e possível (?) em seus momentos - Plano Real/Bolsa Família. No quesito aumento de vagas em Universidades Federais, ENEM, aumento de financiamento da educação e o estabelecimento de varias leis inclusivas e afirmativas, como a lei de cotas, a lei Maria da Penha, o Estatuto do Idoso, dentre outros, o ponto é do PT, mas não podemos esquecer que na gestão tucana também houve o início dessas ações inclusivas ao tratar a AIDS como uma questão de Estado e a outorga da Lei do "medicamento genérico" barateando o custo dos remédios principalmente para os aposentados, os que mais se valem das farmácias no "controle" das doenças típicas dessa etapa de suas vidas. E o PT poderia ter feito mais nesse quesito se não fossem as "alianças espúrias" que conduziram Marco Feliciano a se tornar presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias na Câmara dos Deputados. PIADA PRONTA ESSA!

No que diz respeito à Marina Silva, há aqueles que a "condenam" mas não consigo ver no que ela possa ter manchado a sua história como dizem. Se assim fosse, o que representaria o "aperto de mão" de Lula e Maluf?!? Não consigo entender por que as alianças petistas merecem o direito a uma "relativização" e dos demais "atores políticos" se cobra um "purismo político" até ingênuo no mundo da política onde só tem "cobra criada". 

A meu ver, Marina optou em tentar "minar" essa polarização ao apoiar o Aécio, percebendo o quão daninha a polarização é para o Brasil já que nosso país não é "Vermelho" ou "Azul"; e sim, um país com uma imensa diversidade humana e cultural. Foi uma escolha dela e que foi muito pautada pela "desconstrução" de "baixo nível" que o PT dedicou à candidatura dela. 

A verdade é que cada um jogou com aquilo que tinha em mãos; e o PT sagrou-se vencedor. O problema, no entanto, continua sendo o "projeto de país" que se quer para o futuro, o qual deverá ter condições para "sustentar" garantindo todo esse processo massivo de "inclusão social", não se tornando afinal um arremedo da frase marxista que diz "tudo que é sólido se desmancha no ar".

Esse é o meu ponto central de discussão. O "projeto desenvolvimentista" em curso (e que seria muito similar caso o PSDB estivesse no governo) é o melhor para assegurar tudo isso que foi debatido aqui (e mais um pouco) no médio e no longo prazo? Penso que não! O Mundo está mudando rápido, outros interesses estão gradativamente se tornando hegemônicos e esse "desenvolvimentismo" não dá conta de posicionar o Brasil no novo mundo global e em rede (termo caro a Castells) que já se desenha. 

A Petrobras não deveria ser o foco de nossa atenção, por exemplo. Não deveríamos abdicar jamais de criarmos novas tecnologias e matrizes energéticas mais limpas. Temos a condição de sermos o "celeiro do mundo", mas qual é a política pública (e o investimento federal) para desenvolver as tecnologias desse setor? Estou falando de "tecnologia agrícola" produzida pela EMBRAPA, por exemplo, e que preserve o que resta de nossas florestas. Mas para tal não basta dar acesso democrático às universidades, é preciso fazer isso e manter a qualidade.

É preciso desenvolver uma cidadania de alta intensidade. Dito de outra forma, precisamos reverter os resultados BEM NEGATIVOS do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) para garantir que tenhamos cabeças pensantes para produzir o país que queremos nesse futuro tão próximo. Para tanto, é preciso uma revolução infraestrutural e ética em setores estratégicos importantes como a EDUCAÇÃO (em todas as etapas), CIÊNCIA E TECNOLOGIA, entre outros. Isso só para começarmos a pensar um Brasil mais justo e que garanta conquistas sociais e ambientais. Essa polarização entre PT e PSDB, que divide artificialmente o Brasil, infelizmente eclipsa o principal que é o Brasil do amanhã.

*É mestre em Sociologia pelo programa de Pós-graduação em Sociologia da UNESP/FCLAr e docente da Faculdade de Tecnologia de Sertãozinho (FATEC) nas disciplinas “Sociedade, Tecnologia e Inovação” e “Sociologia das Organizações” do curso de Tecnologia em Gestão Empresarial: Processos Gerenciais.

sábado, 15 de novembro de 2014

Algumas considerações a respeito da politica brasileira


Fabio Augusto da Silva Lima 
Contato: fabioasl@gmail.com
 
No último dia 26 de outubro encerraram-se as eleições presidências de 2014, com uma acirrada disputa no 2º turno entre Dilma Roussef e Aécio Neves. Depois de uma campanha de baixo nível, cheia de reviravoltas, polêmicas, morte de um dos candidatos ao pleito, ausência de debate e propostas, venceu a atual presidente, Dilma Roussef, do PT, partido que governa o país há 12 anos.

No entanto, o que mais me chamou atenção não foi a vitória do PT, que sinceramente eu já esperava, mas sim, à ofensiva promovida pela direita conservadora do país, apoiada pela mídia nacional, a fim de atacar o governo e tentar eleger seu candidato a todo custo.

É fato que, nos últimos anos, os movimentos da direita conservadora e liberal brasileiro têm se tornado cada vez mais numerosos, notáveis e organizados. É claro, com todo apoio e suporte da mídia, desde televisa como impressa, personalizada na reacionária revista Veja. O mais absurdo de tudo isso é ver nas ruas e na internet gente defendendo um novo golpe militar, numa intensidade que não se esperava ver alguns anos atrás. Além de ser um retrocesso politico, é no mínimo inconsequente defender a volta de um regime ditatorial e autoritário, que durante anos, fez tão mal ao país.

Esse movimento inclusive, a meu ver, tende ameaçar a médio ou longo prazo o processo de democracia no país. Isso porque, não vejo uma organização de esquerda disposta a enfrentar esse movimento. Pelo contrário, o que vejo é acomodação de um governo que pensa estar acima de qualquer ameaça. Por sua vez, uma parcela significativa dos intelectuais sérios desse país, ou estão calados ou ainda se manifestam de forma tímida. Como afirmou Mather Luther King, “O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silencio dos bons.”.

Antes de prosseguir, gostaria de enfatizar que também não estou aqui para defender o governo petista, penso que ele tem falhas e cometeu muitos erros durante o tempo em que governa o país, por exemplo, em não fazer as reformas necessárias, como a política. No entanto, comparado aos 8 anos de governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, foi muito mais popular e eficiente, principalmente no que se refere a diminuição da pobreza e aumento do emprego e da renda do trabalhador.

No entanto, como disse o jornalista Breno Altman “a cruzada de direita para derrotar o PT convocou todos os demônios da sociedade brasileira. Preconceito social, racismo, homofobia, machismo, ódio regional, xenofobismo, fundamentalismo religioso”. Isso ficou evidente nessa campanha, que foi marcada por todos esses aspectos, alias, como aconteceu na última eleição, pregou-se novamente o preconceito contra o nordestino, já que a presidente sai vencedora na região nas duas eleições que disputou, inclusive com a sugestão fascista de alguns grupos de segregação da sociedade brasileira, separando o centro-sul do restante do país.

Nesse sentido, o principal argumento é de que o PT só conseguiu ganhar as eleições na região porque estabeleceu um curral eleitoral por meio do assistencialismo, com a distribuição de benefícios sociais, como o bolsa-família. De fato, há muitos beneficiários nessa região, mas esse argumento é facilmente superado, uma vez que o Nordeste concentra o maior número de pessoas abaixo da linha da pobreza, fruto de séculos de descaso e exploração. Desse modo, o bolsa-família mais do que uma esmola, como muitos cães raivosos defendem, é um instrumento de inclusão social, lembrando que há muitos critérios para o recebimento do beneficio, como ter o filho matriculado na escola regular dentre outras exigências.

Além disso, segundo dados da Caixa Econômica Federal, o 2º estado em número de beneficiários, depois da Bahia, é o estado de São Paulo. Isso mesmo, o estado mais rico da nação, maior reduto da direita brasileira e do PSDB é também um dos que mais recebem recursos do bolsa-família. Veja a contradição, típica de governos do PSDB, que já governa o estado de São Paulo há 20 anos e que vem implementando cada vez mais o choque de gestão, que alias, foi uma das propostas do candidato Aécio Neves, que por sua vez, aplicou a mesma política quando foi governador de Minas Gerais, que em tese, representa a defesa do estado mínimo, com diminuição dos direitos sociais e aumento cada vez maior de privatizações e parcerias publico-privadas.

Mas não vamos nos enganar, sabemos que o que está em jogo é o poder. E isso vale para ambos os lados, tanto para o PT, que vem perdendo cada vez mais sua essência, corrompido aos poucos por um sistema politico viciado, corrupto e de cartas marcadas, como para o PSDB, que quer a todo custo implementar no país seu projeto neoliberal de transformação econômica, social e politica do capitalismo.

Por sua vez, a candidata Marina Silva da Rede Sustentabilidade, com toda sua trajetória politica, de defesa do Meio Ambiente, que já foi do PT e que nessa eleição poderia ser uma terceira via, ou seja, uma alternativa viável no cenário politico nacional tão carente de renovação pareceu ceder ao velho dualismo PT/PSDB, uma vez que por iniciativa pessoal ou por orientação de seu partido, não se sabe, acabou apoiando o candidato Aécio Neves no 2º turno, o mesmo que ela criticava antes, considerando-o representante da velha politica. O tiro saiu pela culatra.

Desse modo, o que me preocupa nesse momento são os rumos do país. Se for verdade que avançamos muito nesses últimos anos, principalmente nos indicadores sociais, há ainda muito a se fazer e as condições atuais não são favoráveis. O mercado e os seus especuladores não vão sossegar enquanto não tiverem um representante de sua “confiança”. Para tanto, como diz o jornalista Mauro Santayana, “contam com uma direita radical, mal informada e burra, que acha que, para ir contra o governo, precisa torcer contra o país.”.

Bom, não é difícil, basta ligar a TV ou abrir o jornal e veremos o discurso tendencioso que vende a imagem de um país em crise permanente. Alias os meios de comunicação brasileira, em minha opinião, são os grandes responsáveis pela ascensão e massificação das ideias da direita conservadora, pregando-se todos os dias noticias ruins, de um país em colapso, com juros e inflação alta, com uma economia frágil, enfim, um maquina a serviço dos interesses da oposição.

Além disso, incitam-se todos os dias o papel da oposição contra o governo, quer dizer, em vez de estimular o dialogo e o entendimento a favor do avanço do Brasil, como propôs a presidente Dilma Roussef em seu discurso de posse, propaga-se a ideologia do anti-petismo. Alías, podemos indagar também: oposição de quem? Para quem? Quais seriam os interesses reais dessa suposta oposição politica?

Sendo assim, a politica tradicional, genuína, sai de cena e em seu lugar, entra o marketing eleitoral, a desregulamentação e a banalização, num processo chamado de Cegueira Moral pelo sociólogo Zygmunt Bauman. Quer dizer, os temas de interesse público, como saúde e educação, por exemplo, são substituídos por questões de âmbito privado, de interesses corporativos e econômicos.

Portanto, o que se vê é uma crise de representatividade política. Não por acaso, é cada vez mais comum a presença no legislativo de figuras ultraconservadoras como Jair Bolsonaro, Marcos Feliciano, dentre outras figuras cômicas como o palhaço Tiririca.

Nesse cenário, só resta ao PT e sua grande base, os movimentos sociais, que desde a sua fundação nos anos 80, após o fim da Ditadura Militar, lutaram pela redemocratização do país e que nesse momento, tem todas as condições de iniciar um movimento a altura desse ataque da direita conservadora. Enfim, devem lutar por uma representação e legitimidade que lhe foram garantidas de forma democrática, pela maioria da população.

sábado, 19 de julho de 2014

Brasil x Alemanha: se a goleada fosse só no campo, mas...


Fábio Augusto da Silva Lima

Chegou ao final, no ultimo domingo, a Copa do Mundo 2014, realizada no Maracanã, na cidade do Rio de Janeiro. Como previsto, antes do torneio, venceu o melhor time, a Alemanha, seleção que apresentou o futebol mais vistoso desde o início da competição, que se não foi brilhante, foi eficiente e vitorioso, diferente do futebol brasileiro, que se despediu com um melancólico 4º lugar.
Se fora de campo, o Brasil conseguiu superar os temores sobre as possíveis dificuldades e problemas de toda ordem, que poderiam acontecer durante o evento, realizando com grande êxito a Copa do Mundo, dentro de campo não podemos dizer o mesmo. Nossa seleção brasileira apresentou uma grande defasagem no que se refere ao futebol moderno, tanto em termos táticos, quanto técnicos e emocionais.
Aliás, comparando o futebol alemão com o futebol brasileiro, fica evidente o contraste dentro de campo, haja vista a sonora goleada de 7x1 aplicada pelos alemães na semifinal do mundial. Esse resultado só comprova as diferenças entre os dois países, que vai muito além do esporte.
Na verdade, venceu a organização, a seriedade, o comprometimento e o profissionalismo alemão contra a desorganização, o imediatismo, o improviso e o jeitinho brasileiro. De fato, se fizermos uma análise mais profunda, digo em termos culturais, essa comparação serve para mostrar a enorme distancia entre os dois países, não só no futebol, mas em outros processos sociais também.
Na educação, por exemplo, a Alemanha apresenta os melhores índices de escolaridade, que refletem diretamente nos resultados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA) que tem como objetivo avaliar a cada 3 anos o nível de conhecimento dos alunos nas áreas de matemática, leitura e ciências. Nesse caso, o país europeu, segundo dados da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), ocupa a 16º posição, diferente do Brasil, que encontra-se apenas na 58º posição, atrás de países como Chile, México, Costa Rica e Uruguai. Não por acaso, o país alemão já conquistou 102 prêmios Nobel nas mais diferentes categorias, enquanto o Brasil ainda não possui nenhum.
Em termos políticos, a nação alemã possui uma democracia muito mais avançada e sólida que a nossa, tanto em níveis de participação das pessoas na vida pública quanto nas decisões que incidem diretamente na saúde e na qualidade de vida de seu povo, que, aliás, é uma das melhores do mundo, com uma expectativa de vida da população de aproximadamente 89 anos.
Já em termos econômicos, o país europeu está muito a frente do Brasil, principalmente na área de pesquisa e tecnologia, lembrando que a Alemanha é uma das maiores produtoras de energia renovável e sustentável do mundo, diferente de nós que preferimos destruir florestas e reservas indígenas para construção de hidrelétricas.
Nesse sentido, essa análise nos permite lembrar o historiador Sergio Buarque de Holanda, quando diz em sua grande obra “Raízes do Brasil”, que o brasileiro ainda preserva características da herança colonial portuguesa em diferentes aspectos, no qual destacaria dois aqui: o primeiro diz respeito à postura decordialidade refletida na individualidade personalizada no “ídolo” Neymar, acima da coletividade, do trabalho em grupo; e o segundo ao espirito aventureiro, que remete ao fato do brasileiro acreditar que tudo é possível alcançar, mesmo sem planejamento, afinal somos o povo da criatividade e da improvisação.
Isso ficou claro no jogo entre as duas seleções, quando vimos o Brasil partir desesperadamente ao ataque, após o 1º gol da equipe alemã, aventurando-se de forma quixotesca e inconsequente contra uma seleção muito mais preparada e organizada taticamente em campo. Esperava-se talvez que o improviso e a criatividade do jogador brasileiro pudessem fazer a diferença no jogo. Mas não, nem o jeitinho conseguiu tal êxito, o futebol coletivo venceu o individualismo.
De fato, o futebol mundial mudou muito nos últimos anos, passamos a época do amadorismo, hoje se pensa de forma profissional o esporte, mas infelizmente, parece que a mentalidade daqueles que dirigem o futebol brasileiro não mudou. Na verdade, ainda imperam na CBF os interesses pessoais, o clientelismo, a troca de favores, os lucros exorbitantes com patrocínios, em detrimento da evolução, do profissionalismo e da qualidade do nosso futebol.
Por fim, se dizem que às vezes a queda é necessária, pois nos reerguemos mais fortes, que essa derrota da seleção brasileira sirva não só de analise e reflexão, mas que estabeleça um marco para uma mudança estrutural, de pensamento e postura daqueles que estão à frente das decisões do futebol, enfim, que aprendam que a conquista de uma Copa do Mundo passa pelo investimento maciço no esporte como um todo, com incentivos desde as categorias de base, de forma planejada, organizada e profissional, mas não só, passa principalmente pelo investimento em educação, pois como diz Paulo Freire, ela é um dos principais instrumentos para transformação social, e por que não, do futebol nacional. Ora, a Alemanha fez isso com seu futebol há doze anos, e hoje colhe bons resultados, por que então não seguimos esse exemplo?

Referencias
HOLANDA, Sergio Buarque de. Raízes do Brasil. Companhia das Letras. São Paulo, 1998.

quinta-feira, 19 de junho de 2014

As corporações e o discurso ambientalista: A mais sublime perfumaria.

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Cléder Aparecido Santa-Fé
E-mail: casantafe83@gmail.com


Eu acabei de ler um post no blog do Jamil Chade relatando que a FIFA recusou-se a destinar mais de 0,01% do total da renda dos jogos à causa do tatu bola, mascote da Copa 2014 e espécie ameaçada de extinção.

Cabe salientar que o querido “Fuleco” gerará aproximadamente 30 milhões de reais de lucro aos fabricantes e a FIFA, detentora da patente da mascote, estava disposta a ceder apenas 01 milhão à ONG “Associação Catinga”, entidade responsável pelas ações de preservação do tatu-bola. 

Perante a negativa da ONG, que considerou o valor oferecido muito baixo, e da falta de interesse da FIFA em elevar os valores do repasse da renda, as negociações fracassaram.

Este é mais um caso em que o discurso ecológico e de sustentabilidade é utilizado como perfumaria, ou seja, com a finalidade de produzir uma falsa consciência à sociedade de que os governos e as grandes corporações estão realmente preocupados com as causas ambientais.

Já foi veiculado na imprensa que a FIFA está isenta de arcar com aproximadamente R$ 1 bilhão em impostos, e que estima ter uma arrecadação liquida total de R$ 10 bilhões de reais, 101% a mais do que arrecadado na Copa de 2006 realizada na Alemanha. Fica evidente que a “causa ambientalista” é mais uma falácia ideológica para legitimar a grande política do “pão e circo”. 

Diante do cenário apresentado, torna-se adequado concluir este post com uma paródia da célebre frase do livro “Quincas Borbas” de Machado de Assis: “Aos vencedores, o lucro. Aos tatus-bolas, as batatas”.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Isto é ser humano?


Cléder Aparecido Santa-Fé
casantafe83@gmail.com

É com muita preocupação que escrevo este post. Em menos de duas semanas, o noticiário nacional veiculou dois casos de linchamento, com o agravante, de terem sido cometidos contra pessoas inocentes.
Para quem leu o artigo "Gentilezas da TV", de autoria de Fabio Augusto, ficou evidente que a principal função dos meios de comunicação seria o de promover uma programação educativa e de utilidade pública, porém esta diretriz se tornou um "favor" e estes meios estão engendrando com mais frequência uma cultura da imbecilidade e da intolerância com o semelhante.
Meu irmão Santa Fé postou em sua rede social uma reflexão pertinente acerca das distorções dos direitos sociais e individuais garantidos em nossa constituição cidadã, e que diante da ausência ou indiferença do tripé Estado, Família e Escola está sendo germinado um perigoso retrocesso para o estado de todos contra todos hobbesiano, no qual o rompimento do contrato social é justificado pelas mazelas produzidas pela política brasileira, principalmente pelos casos de corrupção, de impunidade e da perpetuação das desigualdades.
Diante da síntese de barbárie que presenciamos nos últimos dias fica evidente a necessidade urgente de repensarmos, enquanto cidadãos, a qualidade dos serviços públicos oferecidos pelo Estado, no qual predomina um discurso hipócrita de formação cidadã e humanizadora, assim como o nível cultural veiculado pelos meios de comunicação, no qual está imperando um processo de esvaziamento do ser humano.
Deste modo, a realidade está mostrando sua face perigosa, putrefata, fascista e nada animadora às gerações futuras e se não acordarmos a tempo será tarde demais.


sábado, 10 de maio de 2014

“Gentilezas” da TV



 Fábio Augusto da Silva Lima

“A televisão me deixou burro,
muito burro demais.
Agora todas as coisas que eu penso
me parecem iguais.”
Televisão (Titãs)

Na última semana, estava “navegando” pela programação noturna da TV, quando resolvi passar pelo programa The noite, do canal aberto SBT. Não quero aqui entrar em detalhes a respeito do seu conteúdo, mas algo me chamou atenção. Em um determinado momento o apresentador Danilo Gentili, em um suposto gesto de cidadania, quis divulgar a campanha de vacinação contra a gripe em curso, promovida pelo Ministério da Saúde.
Até aí tudo bem, diante de tanta besteira, uma prestação de serviço à população. O problema veio depois, quando Danilo Gentili, após a divulgação da campanha, solta a seguinte perola: “Eu fiz isso de graça viu, não cobrei nenhum cachê.”.  Todos da plateia aplaudiram e enalteceram sua atitude.
Essa postura me deixou indignado e me fez pensar a respeito do papel que a televisão vem exercendo, principalmente a TV aberta, para a formação educacional e cultural da população brasileira. Para o sociólogo francês Pierre Bourdieu no livro Sobre a televisão de 1997, a programação televisiva, em busca de audiência, expõe a um grande perigo não só as diferentes esferas de produção cultural da sociedade como também a política e o exercício da democracia.
 Talvez muitos não saibam ou ignoram, inclusive o próprio Danilo Gentili, mas as TV´s abertas foram concedidas a diferentes grupos de comunicação regionais por meio de concessões públicas do Estado brasileiro. Isso supõe que sua programação deveria servir ao interesse do público, por isso, o apresentador não fez mais do que obrigação, na verdade, seu gesto deveria ser regra dentro da programação da TV, mas infelizmente, não é isso que temos visto ultimamente.
Na verdade, pode-se constatar a partir desse exemplo, o atual estágio da TV brasileira, reduzida a um jornalismo influenciado pela política economicista, de exaltação ao Mercado, reducionista, sensacionalista e manipulador de informações, com formadores de opinião caricaturais, tendenciosos e reacionários; novelas comerciais, promotoras de valores distorcidos, que banalizam a violência, com forte apelo sexual e que disseminam um estilo de vida fútil e consumista, reforçando as diferenças sociais e de classe da população; programas de entretenimento e humor sem nenhuma graça, bestializantes, enfim, uma máquina a serviço dos interesses da ordem dominante vigente.
De fato, os canais de TV se tornaram verdadeiras empresas que tem como principal objetivo a audiência e o lucro. Um exemplo disso é que a maioria são sustentadas por grandes corporações como: bancos, indústria automobilística e de alimentos, agroindústria e até mesmo pelo próprio Estado. Isso se dá por meio de diferentes meios, desde verbas públicas, propagandas, anúncios de publicidade, etc. ·.
Nesse sentido, outro caso que me chamou atenção foi à entrevista concedida pela jornalista Ticiane Villas-Boas, do Jornal da Band, para revista Veja, no qual ostentava seu estilo de vida rico, cheio de privilégios e regalias, ao estilo “mulheres ricas”. Apesar da entrevista não ter agradado a emissora, seu colega de programa e até mesmo seu marido, ela continuará no Jornalístico que apresenta, porque a jornalista é casada com Joesley Batista, que é um dos maiores empresários do país, dono de marcas como a Friboi, 2º maior indústria processadora de carne do mundo. Evidentemente, sua presença na bancada representa muitos patrocínios para TV Bandeirantes.
Outro exemplo recente foi o da campanha “Somos todos macacos” promovida pela agência de publicidade Loducca, que representa o jogador Neymar, após um torcedor jogar uma banana na direção do jogador Daniel Alves, durante o jogo do seu time, Barcelona, contra o Vilarreal, pelo Campeonato Espanhol. A partir daí, o episódio, que foi algo grave e que mostra o preconceito e intolerância ainda presentes na sociedade, e que, portanto, poderia proporcionar uma discussão aprofundada a respeito do tema, se tornou um grande espetáculo midiático.  
Muitos “artistas” com a intenção de aparecer, foram na onda, num verdadeiro evento narcisistico, posando em fotos com bananas, manipulados, capturados e repetindo o discurso construído pelo marketing, pela hipocrisia e oportunismo canalha daqueles que lucraram com a situação.  
            Por outro lado, o movimento negro se posicionou desde o início contra esse discurso, manifestando sua indignação a respeito da campanha e propondo um debate  sério e critico não só desse caso, mas também acerca de todo histórico de racismo e discriminação contra os negros no país.
Por fim, aproxima-se a Copa do Mundo no Brasil, e com ela, toda a lavagem cerebral exercida pela TV. Basta acompanhar a programação e observar a campanha em torno da seleção brasileira de futebol, que por sinal, nunca teve tantos patrocínios e publicidade como tem agora, com a promoção de um nacionalismo ufanista e idiota, mascarando todos os problemas sociais, estruturais e políticos que o país vive. Nada diferente do que foi no período da ditadura militar, quando a seleção canarinho foi usada como bandeira para promover o Brasil enquanto um país unido, desenvolvido e sem conflitos, ocultando assim a repressão exercida pelo regime contra a população.
Desse modo, dentro desse contexto de alienação, o sujeito acaba sendo destituído de si, para viver uma suposta “consciência coletiva”, entretanto, de forma estranha, alheio a identidade do seu próprio eu.  Por sua vez, a TV, segundo Bourdieu “que poderia ter se tornado um extraordinário instrumento de democracia direta (p. 13)”,acaba reproduzindo o modelo capitalista privado e dominante do mundo globalizado. Agora fica a pergunta? É possível resgatá-la da condição em que se encontra?  Ou teremos que continuar tê-la como instrumento de “opressão simbólica” e aceitar o lema que diz que “A revolução não será televisionada”?

Referência:

BOURDIEU, Pierre. Sobre a televisão. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Joe Strummer - Punk Rock Experimental


Boa noite a todos!

Estou postando uma música do Joe Strummer que sintetiza o quanto esse artista foi importante para música mundial, principalmente no movimento punk, já que ousou trabalhar vários outros ritmos em sua discografia. 

Em suma, esse grande artista contribuiu significativamente para que as músicas do The Clash, assim como seus trabalhos posteriores ficassem  para posteridade.

Tenham todos uma boa semana e espero que gostem do vídeo.

Abraços

Cléder